O governo federal postergou mais uma vez o anúncio de uma solução definitiva para a crise da carne que, no último ano, vem fechando frigoríficos e trazendo prejuízo aos pecuaristas. Representantes dos setores envolvidos se reuniram ontem em audiência pública em Brasília promovida pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento da Câmara Federal. Estiveram presentes o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Mário Candia, os ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, e da Fazenda, Guido Mantega, a presidenta da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Roberto Gianneti da Fonseca, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), Luciano Coutinho, e o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar.
Uma das alternativas propostas pela Acrimat é a liberação de uma linha de crédito por parte do BNDES para capital de giro dos frigoríficos. “Com isso eles podem garantir o pagamento da compra da matéria prima das indústrias, que é o boi”, disse Mário Candia. A resposta do governo federal não foi satisfatória. Foi sinalizada a formação de uma comissão menor para conhecer de perto a situação. “O ministro da Agricultura acha que a crise não é sistêmica, ela é pontual com razões individuais de cada grupo ou empresa. Ele não vê uma crise em toda a cadeia produtiva”.
Medida -Candia defendeu a intervenção por parte do governo estadual em algumas plantas para que voltem a funcionar. Ele ressaltou que há R$ 150 milhões presos em processos de recuperação judicial e sete mil desempregados diretos na indústria. “O produtor não quer vender a prazo com medo de receber, à vista os frigoríficos não estão comprando e os pequenos estão em dificuldade. Eu vejo todo mundo falando mas nenhuma ação”.
Na opinião de Luiz Antônio Freitas, presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo), o problema do setor tem uma dimensão muito grande mas o confisco de plantas seria desnecessário já que os frigoríficos que ainda estão na ativa trabalham com capacidade ociosa. “Falta oferta de boi”, observou. Freitas concorda que cada empresa tem sua situação pontual e que será difícil encontrar uma solução única para resolver o problema do segmento. “A crise está em toda a cadeia produtiva. É uma questão mais ampla que precisa ser mais discutida entre o governo, produtores rurais e a indústria frigorífica”.