Zelaya continua dono da embaixada do Brasil em Honduras. Passou lá o Natal e passa o ano-novo. Você que me lê está pagando a hospedagem, a cada vez que compra algo com o preço carregado de impostos. O Brasil insiste em ficar na contramão, considerando Zelaya presidente de Honduras. Insiste em dizer que houve um golpe. Um estranho golpe latino-americano, que não foi desferido pelas forças armas, mas pelo Ministério Público, pelo Supremo, pelo Congresso e, por fim, pela própria população, que, no voto facultativo, compareceu às urnas para votar na eleição que Zelaya queria cancelar. 61,3% votaram. Quando Zelaya foi eleito, votaram 52%.
Ontem me caiu a ficha sobre que razões teriam levado o governo brasileiro a tão teimosa posição. E acho que as encontrei na História recente do Brasil. O presidente João Goulart, tal como Zelaya, estava influenciado por lideranças externas da esquerda revolucionária. Jango se deixava influenciar por Fidel Castro – que chegou a mandar milhões de dólares para a "revolução socialista"brasileira, inlusive para as mãos de Brizola, como ele próprio me confirmou. O mentor de Zelaya é o tenente-coronel paraquedista Hugo Chavez, que quer implantar a "revolução bolivariana"na América Latina.
Tal como Goulart, Zelaya promoveu movimentos populistas visando a permanecer no poder, a cancelar eleições e a fechar o Congresso. No Brasil, o povo saiu às ruas e os jornais publicaram editoriais de primeira página, exigindo um basta no governo Jango; exigindo um corte numa revolução socialista e populista que estava em marcha. Aqui, os militares deram o "coup-de-grâce"; em Honduras, o presidente golpista foi apeado do poder pelo Judiciário e pelo Legislativo. E a eleição presidencial foi mantida. No Brasil e em Honduras, assumiram os presidentes da Câmara Federal. Lá, o presidente da Câmara entrega o poder ao presidente recém eleito. Aqui, o Congresso elegeu para um mandato-tampão o general Castello Branco(que acabou por cancelar a eleição presidencial do ano seguinte).
Lá como cá houve, na verdade, um contragolpe. Aqui, por uma ação militar que deixou o Congresso diante de um fato consumado: a vacância da presidência, com a fuga de Goulart para o exterior. Lá, por uma ação totalmente dentro da legalidade. Em que o governo brasileiro, até hoje, não reconhece a vacância do cargo. Converte a embaixada em palácio presidencial de mentirinha, de conto de fadas, em que só os governos do Brasil e dos bolivarianos acreditam.
É aqui que está a explicação: as frustrações com a queda de Goulart se projetam, emergem do inconsciente do principal conselheiro de política externa de Lula, com o contragolpe também dado em Zelaya. É como se, inconscientemente, estivessem segurando Goulart numa embaixada de Brasília, para que não fugisse para o Uruguai e
continuasse "presidente"protegido pelos muros da imunidade diplomática do território estrangeiro. O doutor Freud diria que o que não puderam fazer com Goulart, fazem agora, mesmo desesperados, com Zelaya. Resta saber o que vai fazer o governo brasileiro depois do dia 21 de janeiro, quando termina o atual período de mandato presidencial hondurenho. Vai transferir o hóspede para o Copacabana Palace, por nossa conta?