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Um presente para a mãe

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Fiz um fiasco e ainda me lembro dele: o presente que dei à minha então mulher, pelo Dia das Mães de 1964: um aspirador de pó. Certamente por um ato falho, quando pus o presente nas mãos dela, ela deixou cair. Quando nos separamos, significativamente, ela não quis ficar com o aspirador, que uso até hoje para atiçar o fogo na churrasqueira. Eu tinha 23 anos e com certeza era muito ingênuo. Hoje, vejo nos suplementos dos jornais a propaganda para o Dia das Mães, sugerindo como presente aspirador de pó, panelas e até um descansador de pratos recém lavados. Uma propaganda tão ridícula quando eu fui há 45 anos. Hoje me divirto comigo mesmo, imaginando que meu presente talvez tivesse a intenção de dispensá-la da vassoura.

Dia das Mães nem era para ter presentes. Surgiu há mais ou menos 100 anos, quando uma mocinha americana perdeu a mãe e entrou em depressão. As amigas, para consolá-la, organizaram uma homenagem à mãe dela, mas ela quis que a festa fosse para todas as mães. O costume foi se espalhando pelos Estados Unidos e já em 1914 o Presidente decretou que 9 de maio seria o Dia das Mães. Aqui, o dia saiu por uma penada de Getúlio Vargas, em 1932, escolhendo o segundo domingo de maio, como na maior parte dos países. Em Portugal é no primeiro domingo. Na Europa do leste, é em março. O dia virou mais uma oportunidade para o comércio promover vendas, ainda que sejam de panelas ou enxugadores de pratos.

Óbvio que a maioria das mães não vai ser agradada com um eletrodoméstico. Talvez um gesto de agradecimento e amor seja mais bem recebido que um presente que a lembre de tarefas domésticas. Reconheço que hoje há filhos que nem conhecem bem suas mães e não saberiam o que escolher para agradar aquela mulher que deixou o bebê na creche, depois com a babá, depois com a empregada, depois na escola – e quando se deu conta do tempo que passou, percebeu que nem conversaram direito, porque ela teve que trabalhar fora para ajudar a sustentar a casa. Os juizados de menores estão cheios de depoimentos de pais e filhos que não conseguiram sequer se conhecer.

Os árabes têm um belo costume: quando o pai precisa se ausentar muito para sustentar a família, o avô é quem dá educação para as crianças. Tem mais experiência, mais vivência, mais sabedoria e, sobretudo, mais tempo que o pai. Estou contando essa história toda porque cada vez mais na vida, com o corre-corre cotidiano, as novas gerações estão chegando ao mundo desamparadas da educação de casa. Desde coisinhas simples, como pegar os talheres à mesa, a noções básicas de cortesia – as palavrinhas "por favor", "com licença", "obrigado" – os cuidados de asseio e higiene, a arrumação de roupas e do quarto, a percepção dos males das drogas e do álcool, até princípios básicos de civilidade e cidadania, como respeitar os direitos alheios – não jogar lixo, não fazer barulho – e ser guardião e seguidor das leis(sem essa de pais dando mau exemplo de compra de fita pirata, sonegação de imposto, parar em estacionamento proibido e furar sinal vermelho).

 

A falta dessa educação em casa está tornando um inferno a vida dos filhos e dos pais, autores e vítimas de dramas e tragédias. Dia das Mães talvez seja um bom dia para pensar nisso, e ainda tentar evitar o que pode vir por aí.

 

 

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