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Acabei de ver entrevista com Flavio Tavares, na GloboNews. Flavio foi preso, torturado e depois trocado pelo embaixador americano sequestrado, banido do país e mandado para o México. Tenho uma dívida com ele. Pelo Estadão, ele fora o primeiro a pedir entrevista ao Presidente Bordaberry, um dia depois do golpe que fechara o Congresso do Uruguay. Eu era concorrente, do Jornal do Brasil, e ficara na lista de espera. Mas Flávio participava de uma reunião dos tupamaros e foi preso no dia da entrevista. Sobrou para mim. Faturei a primeira página de domingo, com foto ao lado e do mesmo tamanho da imagem do casamento de Elisabeth Taylor com Richard Burton.

Pois Flávio, corajoso como sempre, reconheceu na GNews as brutalidades do Che Guevara, chefe do Tribunal Revolucionário que sumariamente levou milhares ao paredón. Teve coragem de dizer, sendo ele de esquerda, que o regime dos Castros ficou tão tirânico quanto a tirania do Sargento Baptista, que derrubaram há mais de 50 anos. Nunca vi um mito mais literal que o argentino Guevara. Literal porque a palavra mito vem do grego, que significa contar causos. Os gregos criaram heróis, na sua mitologia. O Che parece ser um Aquiles com cabeça de Medusa. Os pés o levaram à morte. Perdeu as botas e andava descalço, sem poder fugir rapidamente, até que foi morto por uma patrulha do exército boliviano.

Em minhas férias no Peru, neste março, acompanhou-me por uns dias um motorista cubano, Francisco. Perguntei-lhe sobre Guevara. Ele me respondeu: Um casal argentino me perguntou também sobre o conterrâneo deles. Respondi tentando ser respeitoso: Se eu, cubano, fosse para a Argentina e matasse 10 mil argentinos, o que vocês achariam de mim? Conto isso porque Flávio Tavares, da esquerda histórica brasileira, lembrou que está sendo feita uma revisão no mito. Isso pode dar prejuízo para os que faturam a imagem do Che em camisetas e broches, numa grande exploração capitalista.

E conto isso também porque encontro em jornais e revistas desses dias o registro de mudanças na esquerda brasileira. Está se aburguesando, dizem as notícias. O Partido Socialista convida para suas fileiras o presidente da FIESP e a presidente da Confederação da Agricultura. O PT descobriu bons automóveis e excelentes vinhos – e louvo o seu bom-gosto. A militância reclama, mas não há o que fazer. Foi a busca de melhor padrão de vida que derrubou o Muro de Berlim e converteu a China Comunista em feroz economia de mercado. Acabou a era das revoluções, lembrou bem Flávio Tavares, na mesma linha do comunista histórico, poeta Ferreira Gullar..

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