Depois de a porta arrombada dezenas de vezes, o governo pretende botar uma tranca. Para os próximos dias espera-se um decreto que exige para cargos de nomeação sem concurso na esfera federal, que o pretendente não tenha condenação judicial. É uma resposta à opinião pública a tanto escândalo envolvendo gente que nunca deveria ter sido nomeada. Para citar um exemplo recente, é o caso de José Weber, que estava envolvido em um escândalo na Previdência. Não tivera condenação e virou número dois na Advocacia Geral da União, e agora aparece indiciado pela Polícia Federal, por vender parecer. Governos parecem não acreditar na velha máxima de que é melhor prevenir que remediar. Assim como não previnem desabamentos na serra fluminense, não previnem que suspeitos possam ter cargos importantes na administração pública.
Na crista dos modismos politicamente corretos, suspenderam a consulta ao serviço de informações do governo. O mesmo montado por Juscelino, em 1956, com o nome de Serviço Federal de Informação e Contra-informação. Três militares e um delegado foram aprender com a CIA e o FBI. No governo João Goulart, o Coronel Golbery passou a supervisionar o Serviço, que no governo militar virou SNI. Em qualquer nomeação, a autoridade que nomeava tinha que se valer da ficha do serviço de informações e raramente era enganada pelo caráter de quem recebera o cargo. Aí Collor extinguiu tudo isso e o critério passou a ser o do partido no poder, coisa da nomenklatura soviética. O partido passou a se adonar de setores do governo, houve um loteamento de cargos e criaram-se balcões de negócio, mercantilizando o que não pertence aos partidos nem ao governo, mas ao povo representado pelo estado.
Hoje, quando a Polícia Federal ou Civil e o Ministério Público descobrem um escândalo, a falcatrua já foi feita e o dinheiro do povo sumiu para nunca mais voltar. Não seria mais racional prevenir, já que a rara prisão não devolve o que foi desviado? Desconfiado do voto do eleitor, o próprio povo apôs milhões de assinaturas para exigir ficha limpa de quem quiser ser candidato. Agora o governo federal pensa em fazer o mesmo. É uma proteção muito débil, porque exige condenação transitada por um tribunal. Ser primário, não ter culpa formada, embora suspeito, deixa o candidato a cargo público tão imaculado quanto a veste branca de Madre Tereza. Candidato a cargo público deveria ser como a mulher de César – não basta ser honesto, tem que parecer honesto, isto é, estar acima de qualquer desconfiança. Tanto para o eleitor quanto para quem nomeia. E tanto o eleitor quanto o que nomeia precisam ter mais informações antes de digitar o voto ou assinar a nomeação