A goleada do Barcelona no Santos nos oferece uma lição: a organização é quase tudo. Na cultura brasileira, primamos pela desorganização, a bagunça, na política e nas nossas cidades. Basta ver como estamos nos preparando para a Copa. Os aeroportos, em vez de estarem cada dia mais organizados, estão cada dia mais bagunçados. Embora tenhamos a palavra ordem na nossa bandeira, na prática é letra morta. É mania nossa escrevermos as boas intenções em discursos ou leis, para nos convencermos de que resolvemos os problemas. Na prática, a escrita é outra. Cidadãos estrangeiros que vivem por aqui acham graça de nossa informalidade, mas quando são prejudicados pela bagunça, o improviso, o inesperado, até esquecem que são hóspedes e desancam o hospedeiro.
Lendo uma biografia de Getúlio Vargas, encontrei um trecho do discurso dele na posse como presidente provisório, em 3 de novembro de 1930. "Precisamos por atos e não por palavras cimentar a confiança no regime que se inicia. Comecemos por desmontar a máquina do filhotismo parasitário, com toda sua descendência espúria. Para o exercício das funções públicas não deve mais prevalecer o critério puramente político. Confiemo-las aos homens capazes e de reconhecida idoneidade moral. A vocação burocrática e a caça ao emprego público(…), com o caciquismo eleitoral, são males que têm que ser combatidos tenazmente."
Cito Vargas porque Dilma foi iniciada na política ostensiva e legal no PDT, filho ideológico de Getúlio. E a presidente acaba de dizer que vai ampliar os critérios para escolha de ministros. Até agora, os critérios conhecidos são: ou indicação de Lula – como legado, ou indicação de partido aliado, como condição para dar voto ao governo no Congresso. Os critérios de idoneidade – ou ficha-limpa – e capacidade técnica("homens capazes e de reconhecida idoneidade") ainda estão à espera de serem a condição básica para assumir ministério. Tomara que a presidente, que voltou atrás na anunciada disposição de fazer faxina, não volte atrás nos novos critérios para preencher cadeira de ministro. Certamente vai ser pressionada pelos partidos a continuar subordinada à chantagem partidária.
Getúlio expressou a boa intenção há 81 anos. Depois de presidente provisório, ele foi presidente constitucional, depois ditador e, por fim, presidente eleito. Ele mesmo não levou ao pé-da-letra os critérios para nomear membros do governo. Passados 81 anos ainda ansiamos por esses critérios, com avanços e recuos típicos de um país que não aprende as lições e se mantém desorganizado. Em breve talvez tenhamos esquecido a lição oferecida pelo Barcelona e os 4 a 0.