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Realismo mágico

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Estou em férias pela América do Sul, onde nasceu na segunda metade do  século passado um gênero literário chamado realismo mágico – ou realismo fantástico. O colombiano Gabriel Garcia Marquez, prêmio Nobel de Literatura, os argentinos Julio Cortazar e Jorge Luis Borges, entre outros. O colunista brasiliense Ary Cunha identifica a inspiração dessas histórias fantásticas na realidade política da região. Caudilho morto que volta ao mundo dos vivos na forma de passarinho para fazer esquecer que no seu país falta até papel higiênico. Velho guerrilheiro que é eleito presidente e desfila com seu também velho fusquinha e fica célebre pelo seu desprendimento material. Um índio que governa seu país já por três mandatos consecutivos e que combate o imperialismo do norte com o pó retirado da folha de coca. Uma viúva eternamente de negro, cercada de assessores jovens e enrolada na morte do procurador que a acusava de proteger terroristas iranianos. Um antiquado ditador do Caribe, campeão mundial de ditadura, com 56 anos de poder absoluto. 

No Brasil também tivemos esse realismo fantástico. Dias Gomes é seu mais conhecido representante, com O Bem-Amado – entre outras tantas peças que se inspiraram na realidade política do país de Macunaíma. Odorico Paraguaçu virou o protótipo satírico do político tupiniquim. O personagem de Paulo Gracindo tem em sua essência um pouco de tudo e além do retrato de muitos prefeitos, vereadores, governadores, deputados, senadores e presidentes. Todos são mágicos, porque ganharam mandatos de milhões de eleitores. Depois de 15 anos de ditadura Vargas, elegemos presidente um ministro de Vargas e logo depois trouxemos de volta o ex-ditador, pelo voto.

Todos fornecem ingredientes para um folhetim de realismo fantástico, cada um com sua característica: bebida, dinheiro, mulher, poder, mentira, ambição, traição, morte – às vezes tudo misturado como se fosse uma grande chanchada que debocha não apenas dos personagens, mas, na verdade, dos que os elegem.  Mas apenas a eleição não explica tudo. No livro “Ponerologia – Psicopatas no Poder”, do polonês Andrew Lobaczewiski, o autor fala em patocracia(do grego patos, doença), um sistema de governo doente. Fala de como líderes, com máscara de sanidade, dominam milhões, pondo a funcionar as características do psicopata: envolvente, gentil, atraente, mitômano, com talentos teatrais e sempre uma desculpa pronta. Não sentem culpa quando flagrados nem compaixão pelos que prejudicam.

Tipos com anomalias de caráter, encontram terreno fértil em tempos de histeria coletiva, imposta por modismos e supostos valores estéticos, esgotamento de valores morais e egoísmo alienante. Aí é possível compreender porque elegemos um ditador e outras figuras grotescas, e porque depois dos Anões do Orçamento tudo se repete no Mensalão e se repete de novo no Petrolão.

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