Os pré-candidatos a presidente da República já estão fora de seus cargos, aguardando as convenções partidárias que vão homologar seus nomes para depois começar a campanha de verdade. Por fim, ainda seremos brindados com os tais horários eleitorais no rádio e na TV. Até agora o que se vê são alguns fiascos e trocas de farpas. Ainda não se viu exatamente a coragem de dizer o que farão com o Césare Battisti, os com as FARC que entrarem no Brasil, ou com o MST, ou com a proposta de menos horas de trabalho por semana, ou o reajuste dos aposentados, as leis que protegem os bandidos e se lixam para as vítimas, a construção em encostas, sobre lixões, as grilagens de terra pública, as intimidades com ditadores como Fidel e Ahmadinedjad, ou caudilhos como Chávez; os impostos altíssimos, os juros, a política cambial, e por aí vai. Quem, afinal, terá coragem para converter este país cada vez mais bagunçado, mais selvagem, mais desordenado, em um país civilizado, em que haja mais respeito às leis, por parte dos políticos, dos pobres, da classe média, dos ricos, de todos. Quem vai nos ajudar a sair dos desvios para entrarmos na trilha da civilização. Ninguém mais agüenta o desafio à razão, à verdade, às instituições, às leis.
Seja quem for a pessoa que ocupar a presidência, vai receber uma herança maldita. E não me refiro às constatações do parágrafo anterior, da incivilidade cada vez mais acachapante. Refiro-me a uma bomba-relógio econômica: selic elevada, câmbio valorizado e déficit externo crescendo são fórmula para crise no ano que vem ou no outro. Bomba relógio a explodir no colo de quem suceder a Lula. Nos 12 meses que terminaram em 31 de março último, o negativo das contas externas saltou para 31,5 bilhões de dólares, 1,8% do PIB. Até o fim do ano, quando Lula deixar o governo, estará em 2,5% do PIB. O governo poderia efetuar as correções, mas quem disse que fará isso em ano eleitoral, ainda mais agora que a campanha está começando? Quando estourar nas mãos de Dilma ou Serra, o povo vai pensar que é culpa do novo presidente, e Lula lava as mãos.
Tem gente pessimista com a eleição, à espera de um candidato que realmente preencha seus anseios. Pode tirar o cavalo da chuva, que os partidos não vão usar a lanterna de Diógenes em busca do candidato ideal; eles lidam com o candidato possível. Já recebi mensagens de amigos ameaçando passar na praia o dia da eleição, longe da urna. Não creio que seja a solução. Sejam quais forem os candidatos, digamos que sejam todos ruins na avaliação do eleitor, ainda assim haverá os mais ruins e os menos ruins. Não votar ou anular o voto, equivale a não evitar que os mais ruins vençam. O mais razoável é que se descubra quem é o menos inconveniente para o futuro de nossos filhos, netos e bisnetos, e quem são os mais perigosos, e optemos pelo menos ruim. Churchill disse que para derrotar Hitler, se aliaria ao diabo, se fosse preciso: "Se Hitler invadisse o inferno eu faria ao menos um comentário favorável ao diabo na Câmara dos Comuns".
Os candidatos já estão se expondo e nós vamos descobrindo mais sobre eles. Ainda teremos mais de meio ano para conhecê-los melhor. Vamos descobrir quem está mais preparado, quem não consegue dialogar, resolver crise, quem tem mais populismo que coragem para atacar nossas mazelas, quem mente mais e quem mente menos, quem dissimula mais e quem dissimula menos, quem tem mais conhecimento e quem se engana por subestimar nossa capacidade de perceber. Que vença o menos ruim!