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Primavera Brasileira

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Ainda está difícil de antecipar o que pode mudar no Brasil por essas manifestações nas capitais brasileiras, que se estenderam além-mar: Nova Iorque, Dublin, Berlim… Vi uma faixa que dizia: População passiva = corrupção ativa. Seria um início de um movimento anti-passividade? Outras faixas são contra o preço das passagens de ônibus. Copa das Confederações e ônibus estariam disparando o gatilho de algo que está preso na garganta dos brasileiros mais inquietos e menos passivos? No exterior, as manifestações ousaram sugerir que é a primavera brasileira, como um sinal de despertar, desabrochar, um florescimento. Será assim ou é apenas mais um movimento cíclico que logo vai passar, quando passar a oportunidade da Copa, neste país ciclotímico?

A presidente foi vaiada três vezes. O microfone de som ambiente só ficou ligado na tribunal oficial, registrando os aplausos de primeiro plano. Só quem esteve no estádio pôde sentir o tremor da vaia de quase 70 mil pessoas. No dia anterior, a presidente havia afirmado no Rio, que, como o Brasil vai muito bem, as críticas são "terrorismo informativo". Do lado de fora do estádio, a PM dispersava com balas de borracha, bombas de gás, cavalos e motos, algumas centenas de jovens que protestavam contra os gastos da Copa, lembrando da falta que fazem os recursos para a saúde, educação, segurança pública e transporte urbano. O governador disse que eles "não têm causa, não têm bandeira". Na segunda-feira, quando os manifestantes ocuparam a rampa e a plataforma do Congresso, não houve repressão. Seria o estádio mais importante que o Congresso Nacional?

No Rio, perto do Maracanã, no domingo, a ação policial também dispersou uma manifestação que, como a de Brasília, não agredia pessoas ou bens públicos; apenas protestava contra os gastos. A repressão estendeu-se à Quinta da Boa Vista, atingindo famílias que estavam no parque. Como o pão que cresce ao ser sovado, a reação da polícia fez aumentar as manifestações. Na segunda-feira, Avenida Rio Branco cheia, a manifestação foi maior que aquela que ajudou a derrubar o presidente Goulart, em 1964. As imagens da invasão da Assembléia Legislativa do Rio percorreram o mundo e encerraram a Copa das Confederações. Em São Paulo, nunca se viu nada igual. A presidente concedeu uma declaração do óbvio: manifestação pacífica é da democracia. Está na Constituição a garantia de reunião sem armas. Mas será que ela – e os nossos representantes no Congresso – vão refletir sobre o que os jovens estão esfregando na cara dos mandatários e dos indiferentes?

Destruir patrimônio público e agredir autoridade policial é crime. Mas não é crime a manifestação pacífica, sem armas, em locais abertos ao público, como garante o artigo 5º, XVI, da Constituição. A Polícia Civil de Brasília, uma das melhores do país, apurou que houve pagamento para os manifestantes do Movimento Sem Teto, que queimaram pneus interrompendo o Eixo Monumental e derretendo o asfalto na sexta-feira. E apontou como organizadores três assessores da Presidência da República e um da Procuradoria Geral da República. Depois o governo de Brasília voltou atrás e só vai indiciar um – o que se demitiu semanas antes. Os outros, disse o Secretário de Segurança, só encorajaram a manifestação ilegal. Que estranho!

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