Em 1964, o povo saía para as ruas no Rio, Belo Horizonte e São Paulo brandindo terços religiosos e não panelas. A Igreja Católica estimulava a derrubada do Presidente João Goulart, tido como comunista. Por conseqüência, vieram os fuzis de Juiz de Fora, baixando para o Rio e fazendo o presidente deixar o país. Não se amassavam panelas mas se esmagavam temores de o Brasil se converter num satélite soviético, como Cuba. Hoje ninguém de boa formação imagina uma solução via fuzil. Por isso, as democráticas panelas estão tão presentes. Há quem sonhe com renúncia ou impedimento. Ainda não consigo ver nada além das panelas.
Em seus últimos improvisos, a presidente tem reagido, desafiando qualquer solução diferente do cumprimento do mandato até o fim. Seu argumento mais forte é de que está legitimada pelas urnas. Faz pouco tempo que os eleitores votaram pela continuidade do governo dela. Foram 54 milhões e 500 mil votos que queriam este governo e 51 milhões que queriam outro. Em democracia, aceita-se o resultado. A maior parte gostou do desempenho de Dilma no primeiro mandato, embora fosse um tempo de desmonte do país. Ainda que todos soubessem que o país naufragava, a maioria optou pelo naufrágio. Paciência, a vontade da maioria tem que prevalecer.
Se entre os que votaram nela alguns possam estar arrependidos, que na próxima pensem na seriedade que é uma eleição. A responsabilidade é tão grande que eleitores do eleito tornam-se cúmplices do que o vitorioso tenha feito ou vier a fazer. Sei que muitos eleitores de Dilma reconhecem que foram ingênuos e enganados facilmente. Pode ser até uma virtude reconhecer o erro, ainda que tardiamente. Aliás, virtude que a presidente não tem. Ela continua pensando que fez tudo certo e que o mundo é que conspira contra o Brasil, que a burguesia e o capitalismo conspiram contra ela, inclusive a imprensa golpista. Seria bem mais racional, simpático e inteligente reconhecer que uma série de gigantescos erros econômicos e políticos cometidos por ela é que nos levaram a esta situação, em que empresas estão quebrando e assalariados se desempregando.
Anunciam seus porta-vozes que é precisa diálogo e união, mas ela não muda o linguajar arrogante e desafiador. Assim vai ser difícil evitar a solidão. Fico lembrando do apelo final de Collor presidente: “Não me deixem só”. A propósito, ela acaba de aceitar sugestões do ex-ministro de Collor, Renan Calheiros. Se quiser tomar a iniciativa de diálogo ela terá que começar por seu próprio partido. Enquanto a Lava-Jato vai descobrindo que o Mensalão nunca acabou e começou quando começou o governo Lula, a presidente dizia no Maranhão que é preciso primeiro pensar no país, depois nos partidos. Foi o contrário do que o partido dela tem feito há mais de 12 anos. Como ainda temos três anos e meio pela frente, alguém precisa de uma panela mágica que percutida com uma varinha de condão, possa salvar o país que despenca