Esta semana me perguntaram, na CBN de Brasília, o que eu penso sobre os camelôs que tomaram conta da Esplanada dos Ministérios, significativamente, todos à sombra dos prédios do governo. Barracas ilegais estão lá erguidas, vendendo ilegalmente até mercadorias contrabandeadas. A fiscalização do governo local promete retirá-los toda vez que sai alguma reportagem a respeito. Mas nada faz. Na mesma área, órgãos dos três poderes vão tomando conta dos estacionamentos, reservando lugares aleatoriamente, sem respeitar os que pagam IPVA para ter o direito de circular e estacionar. Tudo ilegal. O Detran promete providências quando sai a denúncia na imprensa, mas nada faz. A rádio CBN insistiu em saber o que penso diante de tanta hipocrisia à sombra do Estado que é guardião das leis. Sugeri que resolvessem a hipocrisia no alto do mastro que está na Praça dos Três Poderes. Que da enorme bandeira brasileira que lá está, retirassem a palavra “Ordem”.
Porque este é um país sem ordem. Estamos acima do Haiti, sem dúvida, e de alguns países africanos e outros do Oriente Médio. Mas é só. O mundo convive com ordem. Ou melhor: vive muito bem com ordem. Quanto mais organizado o país, melhor a qualidade de vida de seus habitantes. Veja o Chile: nesses dias, tem terremotos diários, de 5 a 6 graus na escala Richter e os belos prédios dos bairros de Vitacura, Providência e Las Condes, em Santiago, por exemplo, estão intactos. Quebrou a louça, TVs caíram no chão, mas como há terremotos todos os anos, o país se preparou. A autoridade que não deu o alarme de tsunami foi demitida imediatamente. O atraso aconteceu porque assessores da senhora Bachelet sofriam da síndrome de passar a emergência aos militares. Já em Niterói, no fim de semana, com mais uma previsível chuva de verão, seis mortos. Porque não impera a ordem: continuam a construir em encostas, em lugares de risco, e o estado não age.
O asfalto nas estradas e ruas do Chile está intacto, porque foi feito para resistir a terremotos. No Brasil, a chuva leva a camadinha de asfalto que permitiu sobrar bastante dinheiro para a corrupção, para meias, bolsas e cuecas. Nessa desordem, é o império da lei da selva, em que ganham não os que têm direito, mas os mais astutos, mais espertos, mais desonestos. Um administrador público que já prestou serviços no Distrito Federal, em Roraima e no Paraná, me garantiu domingo que isso é generalizado. O esquema de Brasília, ou o da Bancoop, ou do Marcos Valério, do Arruda ou do PC Farias é difundido e só os anjos exterminadores da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça podem nos salvar. Mas não sem a nossa psrticipação. A necessária reação dos que pagamos tanto imposto por péssimos os serviços públicos de saúde,educação, segurança, justiça, estradas…
Como se isso fosse justificativa para desvio de dinheiro público, eles alegam que é para campanhas eleitorais. Nem a confissão desse crime é verdadeira. Porque o dinheiro é usado em causa própria, só o que sobra vai para o partido. Eles e elas vão para Paris, para as joalheirias, para os automóveis de 300, 400 mil reais. Nós, agora, conhecendo tudo isso, ficamos contra a parede. Ou calamos, e viramos cúmplices, ou reagimos, como cidadãos e eleitores. Ou não seremos dignos sequer de levantar a cabeça para olhar nossa bandeira no alto do mastro: bem no centro dela está a pesada palavrinha: “Ordem” – que nos indica a diferença entre civilização e selvageria.