Quem acompanhou o bate-boca entre dois ministros do Supremo(o pretório excelso), deve estar boquiaberto e triste. O Supremo era a última esperança de poder sem escândalo. Pois o presidente da corte recém substituído dá uma entrevista enterrando a isenção de supremo magistrado para criticar a presidente, por não ter posto no orçamento um aumento para o Judiciário; criticar o Conselho Nacional de Justiça, que quer pegar "bandidos que se escondem atrás da toga"; criticar até um senador, Francisco Dornelles, por "estar a serviço dos banqueiros"; por fim e, principalmente, criticar seu colega ministro Joaquim Barbosa, que chamoui de "inseguro e de temperamento difícil".
A resposta veio pesada. Joaquim Barbosa, também em entrevista, chamou seu colega ex-presidente de "ridículo", "brega", "caipira", "desleal", "tirano", "pequeno", "amargurado" e mais: disse que Peluso, como presidente, manipulava os resultados de julgamento. Em vésperas do julgamento dos 36 réus do mensalão, a lavagem pública de roupa suja no pretório excelso parece praga de quem quer ver o circo pegar fogo e ficar sem força moral para impedir as pressões dos que querem absolver os acusados de um dos maiores escândalos da República e, com certeza, o maior entre todos os do governo Lula.
Domingo fui asistir a um concerto da Orquestra Filarmônica de Brasília, cujo tema era: "Popularizando a Filarmônica". Fui lá pensando que iriam popularizar obras de Mozart, Bizet, Verdi… mas o repertório era de musiquinhas paupérrimas de butiquim. Entenderam mal o que seja popularizar. Pois no Supremo, nos últimos anos, se nota a intenção de levar a corte para perto do povo. Os ministros concedem entrevistas, conversam animadamente nos supermercados, bares e cafés que freqüentam, dão votos com versos ou anedotas. E agora batem-boca como se estivessem discutindo num bar, depois de uma partida de futebol. Parece que também falta entender a popularização.
Era só o que faltava. Porque os dois outros poderes já estão abalados. A presidente está em récorde de aprovação, mas seu governo não; uma série de ministros caiu por denúncias de ilegalidades. Fala-se muito e os resultados não aparecem. Nem o PAC, nem a saúde pública, nem a educação, nem a segurança, nem a dita "infraestrutura". O legislativo tampouco parece estar a serviço da Nação; não sai de lá o que realmente é necessário, como, por exemplo, baixar drasticamente a tal "idade penal" em que os que matam e assaltam com 14 anos são inimputáveis até os 18. Ainda agora – imaginem – a comissão de juristas que apresenta sugestões de reforma do Código Penal, aumenta as penas contra policiais acusados de abuso de autoridade e diminui a pena do furto primário. Quer dizer, não corremos o risco de melhorar a segurança, na medida em que ameaçamos a polícia e fazemos um convite para quem quiser começar no crime – ao tempo em que o tribunal que vai julgar os réus da elite política se perde em bate-boca que nada tem a ver com um pretório excelso.