Voltei agora de três semanas de férias, que passei em Londres, Berlim, Dresden, Munique e Paris. Todos os dias lia os jornais locais, mais a edição internacional do New York Times. Pois digo a vocês que nessas três semanas só fui reencontrar a palavra crise agora, aqui no Brasil. Não estive na Espanha nem na Grécia, onde têm havido manifestações de rua contra a austeridade imposta pelos governos para sair dos apertos de excesso de gastos e de endividamento, mas ficou me parecendo que por aqui estão usando a palavra crise para justificar as consequências dos erros dos últimos anos. Erros que são os mesmos que hoje apertam apertando a jugular de gregos e espanhóis: excesso de gastos públicos e estímulo ao endividamento das empresas e dos indivíduos.
E não me parece que dificuldades na Espanha e na Grécia justifiquem o tsunami que se está fazendo por aqui de uma marola – irônico, não? Crise mundial? Não é bem assim. O que senti na Inglaterra e na França foi um movimento econômico intenso, com preocupações bancárias e punições a alguns bancos. E, na Alemanha, que estava em ruínas em 1945, uma pujança de dar inveja, muita inveja. Com educação, vontade de trabalhar, com método e organização, os alemães produzem mais que os outros. Fico com vontade de chorar, quando lembro que voltamos da Europa como vitoriosos na II Guerra – vitoriosos sobre os alemães.
Nós ainda não entendemos que investir em educação – e não em Copa do Mundo – dá resultados permanentes. Desde que nossas tropas desfilaram triunfantes na avenida Rio Branco, em 1945, até hoje, estamos como o cachorro que tenta morder o próprio rabo. Até o grande salto da indústria automobilística ajudou a emperrar o país, porque esquecemos das ferrovias. A Europa se transporta sobre trilhos, nas cidades e entre elas. Nós nos congestionamos sobre pneus. Improvisamos em tudo, bagunçamos tudo – e ficamos cada vez mais enredados.
Nas três semanas em que li jornais todos os dias, nessas férias européias, a única referência que encontrei sobre o Brasil foi sobre um encontro do cacique Raoni com uma personalidade da Europa. De resto, as miudezas que se passam em nossa política não foram dignas de ocupar espaço de papel em jornal alemão, francês ou inglês. Nem mesmo a cassação do Demóstenes ou as grandiloquentes declarações de nossos dirigentes foram consideradas acima da linha do ridículo. De Gaulle nunca disse que o Brasil não é um país sério. Foi um mal-entendido de meu colega Luiz Edgar de Andrade, que reportou a suposta frase, na verdade pronunciada pelo embaixador brasileiro em Paris. Um homem de grande visão.