O juiz Sérgio Moro deixou sua vida discreta em Curitiba para ir a uma livraria em São Paulo e foi alvo de manifestação entusiasmada e espontânea de centenas de pessoas que frequentavam o local. Foi reconhecido, acompanhado da mulher: “É Ele, É Ele!” E aí vieram saudações de solidariedade: “estamos junto”, “força, juiz!”, “bravo, bravo!”. Logo pessoas lhe entregaram flores brancas. A demanda por justiça e a repulsa à impunidade gerou admiração nacional pelo Juiz Federal de Curitiba, tal como acontecera com Joaquim Barbosa – ainda que a aposentadoria temporã do presidente do Supremo esteja à espera de uma explicação.
Além de heróis juízes, temos também heróis-bandidos, como Roberto Jefferson, que saiu da cadeia nesse fim-de-semana. Ele detonou o esquema do Mensalão que, sem ele, talvez estivesse vigente ainda hoje. Mais do que isso, derrubou o mais poderoso dos ministros de Lula, José Dirceu, que estava sendo preparado para suceder ao líder petista. A coragem dele abriu caminho para a descoberta também do petrolão – esquema que demonstrou a ousadia de corruptos contumazes que não se assustaram com o mensalão, confiando mais na impunidade vigente. Por ironia, enquanto Jefferson permanecia na cadeia mesmo com câncer no pâncreas, autores e beneficiados do mensalão já estavam em casa.
Uma das estrelas da operação lava-jato, o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, ensaiou heroísmo na CPI, há poucos dias. Confessou-se corrupto e convidou os políticos a abandonarem a corrupção. Mas se esqueceu de convidar os eleitores a deixarem de eleger corruptos. Aí é que precisa acontecer o milagre de o heroísmo dos eleitores banir da política aqueles que já tenham dado sinal de desvio de conduta. Porque, convenhamos, boa parte dos corruptos detentores de mandato são reincidentes e ainda assim se submeteram às urnas e foram premiados em vez de condenados. A própria lei da ficha limpa permite que se candidatem se não tiverem tido condenação por colegiado de juízes.
Imagine se na Alemanha alguma empreiteira reforme de graça uma casa de campo que a senhora Merkel porventura possua na Floresta Negra, por exemplo. No dia seguinte ela está na rua. Aqui, a gente só fica pensando que esquemas gigantescos como mensalão – por votos – ou petrolão – para caixa de partido – não têm chefe; que são exércitos só de soldados e oficiais menores, mas sem comandante. Será que ninguém manda num tesoureiro de partido? Ele tem autonomia? O comandante certamente não é uma abstrata divindade, nem um marciano. Talvez seja uma eminência parda, que já está na cabeça de todos que pensam, mas ainda não chegou à mesa do Juiz Moro.