Que tal o título acima? Você, caro leitor, que vem procurando, como Diógenes, a pessoa certa, que acha da idéia? Não vai ser possível, ele não é brasileiro – mas que preenche todos os requisitos, ah, isso preenche. Não conhece os problemas do país? Ora, mas ele sabe ouvir. Se a mocidade voltar às ruas, como ele sugeriu, vai ter humildade e sabedoria não para propor um plebiscito em troca do clamor, mas vai ver o quanto estão vandalizadas a educação, a saúde, a segurança pública. O que falta para os transportes públicos, as estradas, os portos e aeroportos. Vai saber quem vandaliza os impostos, a cidade e o campo. Como tem a virtude da humildade, que é o oposto da arrogância, e, em consequência, é sábio, vai entender as ruas. E uma simpatia que não demonstra cansaço nesse jovem Francisco.
Foi embora deixando saudades, um vazio nos corações, sejam cristãos ou não. Como não veio para fazer política, nem para ouvir discurso de palanque, foi à capital católica do país, Aparecida, mas não foi a Brasília. Mas nas homilias e declarações, fez Política – com P maiúsculo. Disse que o estado precisa ser laico, para servir a todos – nada de crucifixos como guarda-costas de agentes públicos. E pediu aos jovens que não desistam de lutar contra a corrupção. “Não desanimem, não se acostumem com o mal” – nada como um papa sul-americano para conhecer a passividade de alguns países da região.
Passividade estranha, muito estranha, das polícias militares do Rio e São Paulo. Esperam que destruam e saqueiem, para depois agir. No episódio dos pelados com cara coberta, que chutavam crucifixos e esmagavam imagens de Nossa Senhora nas areias de Copacabana, nenhum policial apareceu para flagrante com base no art. 208 do Código Penal: “Vilipendiar publicamente ato ou objeto do culto religioso” – dá um ano de prisão. Por que tanta omissão? Na verdade, foi uma sucessão de erros, improvisos e amadorismo, mesmo com um ano de planejamento. E o prefeito do Rio, que nada aprendeu com a humildade do Papa, ainda se deu nota “perto de 10”.
Também estranho é afirmar que havia 3,5 milhões de pessoas na missa de domingo, em Copacabana. A fé precisa estar afinada com a Física. O número, maior que toda população do Uruguai, equivaleria a botar toda população de Salvador e a de Santos, na praia de Copacabana, e usar 70 mil ônibus para transportá-la – o Rio tem 8.700 ônibus urbanos. Também demandaria cerca de 35 mil banheiros. E como a área toda, do Morro do Leme ao Forte, tem 622.500 metros quadrados, incluindo palcos e barracas, teríamos que esmagar seis pessoas por metro quadrado. Mas como só ocuparam 2 km de extensão da praia, e havia espaço entre as pessoas, não peca quem calcular que havia no máximo 700 mil pessoas – o que é muita, muita gente. A fé, que move montanhas, multiplicou o número por cinco.
E acho que fui profeta. Vocês leram, no meu artigo escrito em março, logo após a fumaça branca: “Ecce Franciscus! Eis Francisco, para salvar a Igreja.” Será que ficou um pouco dele para salvar o Brasil?