Abro os jornais e os canais de rádio e TV e vejo explicações dos especialistas para a eliminação do Brasil na Copa: todos sabiam que não iria dar certo. Então por que insistiam em apostar no hexa? Foi assim no Diretas Já. Os jornalistas sabiam que não iria passar a emenda Dante de Oliveira, mas insistiam em botar o povo nas ruas e nas praças. Depois, foi a frustração e Tancredo teve que ser eleito na indireta. Pego revistas de antes da Copa e leio as previsões: os craques da Copa serão Kaká e Messi; a maioria dos especialistas diz que o Brasil vai ser hexa; todos afirmam que a Argentina ficará em terceiro; muitos, que a Inglaterra será o segundo. E só o veterano Sílvio Luís se aproxima do acerto: prevê Alemanha vice-campeã. Na véspera do jogo Holanda e Brasil a previsão é 3 x 0 para o Brasil. Parece que nenhum desses conhecedores de futebol tem condições de dizer que Dunga não entende de futebol.
A propósito, a culpa agora é de Dunga. Como assim? Dunga ainda entra em campo para jogar? Depois da derrota, Robinho confessou: entramos muito desatentos para o segundo tempo. Como assim desatentos? Quem recebe uma fortuna para trabalhar não tem direito de ser displicente. Ou será que foi porque nove holandeses jogam na Holanda, e apenas três em 23 convocados brasileiros jogam no Brasil? Aí, acabamos numa triste humilhação: a de reencontrar a alegria torcendo contra o vizinho e gozando com o pé da Alemanha.
Criou-se um mito, chamado de O Verdadeiro Futebol Brasileiro. O que é isso? Não será apenas saudosismo das seleções de 1958, 1962 e 1970? O francês Le Monde estampou em manchete: Holanda acaba com a síndrome brasileira. Que síndrome é essa? Tostão(esse entende) escreveu: Temos que parar com a nossa prepotência de achar que o Brasil é sempre melhor. É mais do que uma ilusão; é um ilusionismo que alimenta a festa, que fecha o comércio e provoca prejuízos econômicos e equivale ao Coliseu romano – o circo com que os imperadores distraíam o povo.
Agora vou aproveitar os preços em queda das bandeiras brasileiras. Vou comprar duas para pôr no meu carro e ostentar durante a Semana da Pátria e vou comprar outra, bem grande, para pendurar na janela de meu apartamento, também durante a Semana da Pátria. Na minha casa de fim-de-semana sempre há uma bandeira nacional hasteada. Porque a minha pátria, chamada Brasil, não é um time de futebol. O futebol não vai resolver nada sobre o meu futuro ou o futuro de meus filhos e netos. Pode até encher os bolsos dos cartolas, dos dirigentes da FIFA, dos profissionais do futebol. Para pôr dinheiro no bolso, tenho que trabalhar – ainda que me atrapalhem as paralisações do país em horários de futebol de torneio mundial.
Nosso presidente está na África; criaram um roteiro para que ele pudesse assistir a final do Brasil na África do Sul. No roteiro, um espaço reservado para assistir à semifinal com o Brasil… Ricardo Teixeira havia convidado políticos para irem de carona no avião da TAM que na véspera da final, iria buscar os hexa-campeões. Já é a segunda vez que somos hexa-campeões antes mesmo de o torneio começar. Somos bi nessa síndrome… E vai continuar. Abro uma revista e já encontro propaganda de página dupla: Faltam 49 meses para o Hexa. Céus! Vai começar tudo de novo.