Autoridades da capital do país denunciam que cerca de 27 mil cadastros de estudantes para fazer jus ao passe-livre de ida e volta à escola estão falsificados ou adulterados. Jovens mentem que moram a mais de mil metros da escola, mesmo sendo vizinhos do colégio. Outros alteram foto, nome e número de identidade. E a gente fica se perguntando o que serão na vida adulta; que papel cumprirão no Brasil de amanhã. São dúvidas sobre que princípios aprenderam em casa, que exemplo tiveram dos pais e que ensinamentos receberam na escola sobre cidadania, responsabilidade, leis e deveres.
Se desde criancinha o brasileiro é puxado pela mão do avô para atravessar a rua com o sinal fechado para pedestre; vê o pai invadindo sinal vermelho ao volante; a mãe estacionando em lugar proibido; o tio incomodando os vizinhos com barulho; e tanta notícia na televisão mostrando dirigentes do país roubando milhões, o que esperar que se forme em sua cabecinha? Quantas vezes ouviu dos mais velhos “se os outros fazem, eu posso fazer também”?
O juiz Sérgio Moro, nesta semana, ao libertar condicionalmente a dupla de marqueteiros do PT, João Santana e Mônica Moura, certamente pensava no princípio latino aliis licet, tibi non licet (ainda que outros façam, tu não podes fazer), ao afirmar, nos autos, que um assaltante de banco não pode alegar que assaltou porque outros também assaltam. Lembro disso porque parece que neste pobre grande país rico estamos nos apequenando ao seguir o modelo do erro, o mau exemplo, repetindo ilegalidades de todos os tamanhos, só porque os outros também fazem. Quantos não estacionam o carro em lugar proibido depois de verem outros veículos lá parados?
As empreiteiras do Lava-Jato alegam que pagaram propina porque as outras também pagaram; os corruptos do governo argumentam que os outros também roubaram e até a presidente argumenta em sua defesa que outros presidentes também pedalaram. Quanta ausência de princípios, quanta falta de convicção na ética, na honestidade, na força das leis! Que nação consegue sobreviver com tanta fraqueza moral? Por isso, estamos nos desintegrando, e chegando ao fundo, que é a ausência de segurança para o direito de ir-e-vir, o direito à liberdade, o direito à vida. Somos mortos em crimes dolosos à razão de 160 brasileiros por dia – esse é o fruto final de nossa semeadura viciosa.
De presídios do Rio Grande do Norte, bandidos ordenam ataques ao transporte público e a instalações policiais não só no estado, mas também na distante Santa Catarina. No Ceará, queimam transmissores de operadoras de celular e deixam a ameaça: “Isso é só 1% da nossa capacidade”. Lei fraca, bandido forte. Leis fracas feitas por legisladores contaminados por corrupção de milhões de dólares, viciados em egoísmo. E o país vai se perdendo, incapaz de mudar suas leis, de reforçar suas instituições carcomidas, de dar responsabilidade a eleitores. Quando 27 mil jovens da sede do país usam a fraude para ganhar um direito que não têm, o que esperar do futuro? E só quem pode nos salvar somos nós mesmos.