Nesses últimos dias, cometi um deslize profissional. Jornalista precisa manter-se frio diante dos fatos, para não se deixar levar pela emoção que embota a isenção. Mas não foi possível resistir diante de duas notícias. A primeira, no Jornal Nacional de sábado, mostrando uma fazendeira de Mato Grosso do Sul, a rir ante a crueldade da matança de animais silvestres indefesos. A segunda foi no Fantástico, e depois no Bom Dia Brasil, onde uma extensa reportagem mostra a merenda escolar apodrecida, sendo jogada no lixo e tirada da boca das crianças.
A fazendeira se chama Beatriz Rondon e espero que não seja descendente do Marechal Cândido Rondon, que nascido no Mato Grosso, percorreu 40 mil quilômetros de sertão do centro-oeste para implantar postes telegráficos sob a máxima Morrer se preciso for, matar nunca! Pois a pecuarista de Aquidauana ainda se fez filmar sorrindo ao lado de animal agonizante. O IBAMA vai multá-la em apenas 105 mil reais. Aqui em Brasília, morador de rua que tirou casca de árvore para fazer chá, foi preso em flagrante, por crime ambiental.
Entre os animais, nenhum mata por prazer, nem mesmo a hiena, que também ri. Animal mata para comer ou por se sentir ameaçado, mata em legítima defesa. Até a cobra só pica ao se sentir agredida. E nenhum animal usa arma para matar, muito menos arma que, covardemente, possa ser usada à distância. Quem mata só por prazer, e ri do animal agonizante, não pode ser comparado a uma cobra, a uma hiena e muito menos a uma bactéria, que se aloja em outro ser para sobreviver e se reproduzir. Quem faz o que ela fez está abaixo do reino animal.
Já os que enriquecem tirando merenda das crianças para comprar uísque, como fizeram prefeitos de Alagoas ou fazem tantos outros prefeitos por aí, esses também abdicam do gênero humano, mas não saem do reino animal. São roedores que precisam estar em ratoeiras. Dão para as crianças biscoitos, massa, arroz, deteriorados; as escolas estão sem higiene para preparar merenda – afinal, a educação é o grande inimigo dos ratos. Porque a educação pode dar conhecimento que liberta, que forma cidadãos, que dá consciência a contribuintes e eleitores. Por isso a educação se deteriora tanto quanto a merenda. Fazem isso por aqui sem medo de uma Bastilha, porque já perdemos a capacidade de nos indignarmos, depois de termos passado do fundo do poço.
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Além do fundo do poço
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