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A reboque dos caminhões

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Chegou a hora de parar de prejudicar a população. Chegou a hora de não impedir o acesso a necessidades básicas. Você diria isso aos camioneiros ou aos legisladores e governantes? Necessidades básicas como direito à vida e propriedade; saúde para todos; ensino – não têm chegado aos brasileiros, muito antes do movimento das camioneiros. Governos não têm cumprido o acordo de 1988: a Constituição diz que saúde é direito de todos e dever do estado. Mas faltam na rede pública, há anos, medicamentos, equipamentos, médicos, insumos básicos, muito antes do movimento dos camioneiros. O mesmo quanto à segurança e ao ensino. O Presidente disse que a população não pode pagar o preço da greve. Mas vai pagar. Já paga IPTU para morar, paga IPVA para circular com o carro, paga imposto de renda sobre o que ganha com seu trabalho – e paga quase 40% para poder comprar 60%. Paga pelos serviços públicos que mal recebe. E já que falamos em combustível, paga por 40 litros de gasolina mas recebe só 30. Paga para sustentar um estado inchado, lento e ineficiente, nos três poderes e nos três níveis da Federação.
    
O movimento está se encerrando, depois de atendidas todas as reinvindicações, mas deixou um saldo: demonstrou que o país não tem alternativa para o transporte rodoviário; está, portanto, com motorista na direção do caminhão chamado Brasil. E ficou também um resto: a insatisfação pelos impostos altíssimos, correspondentes a quase metade do preço do combustível. E sobraram os que vêm sendo chamados de “infiltrados”: os que querem Temer fora da Presidência, Lula fora da cadeia e o Exército fora dos quartéis. Esses não serão atendidos em nenhum dos pleitos. E há os que pegam carona, agarrados à traseira dos caminhões: petroleiros que pretendem parar a produção de combustíveis para tirar o presidente da Petrobrás. Estariam saudosos da época em que a empresa foi sucateada pela corrupção? Querem acabar aquele serviço? Ou conseguir derrubar o preço da Petrobras para privatização a baixo preço?
    
O fanatismo de todos esses envolvidos dispensa em geral o bom-senso, a razão e o bem-comum do país. Tirar Temer significa dar o poder a Rodrigo Maia, do DEM, até o fim do ano. Tirar Lula da cadeia significa afundar a Justiça e consagrar a corrupção; e querer intervenção militar é uma confissão de incompetência dos civis. Esse fanatismo chegou ao ponto de sabotarem os trilhos e provocarem o descarrilamento da trem que levava combustível para Bauru. Os camioneiros fizeram um movimento que ganhou a maioria do povo; agora infiltrados podem deteriorar a imagem dos trabalhadores autônomos do volante.
    
Será que vamos aprender as lições? Duvido. Não temos aprendido e com isso temos repetido nossos erros com jeitos diversos. O governo foi surpreendido e deveria ter sabido três semanas antes; demorou a agir; negociou com quem não representava os manifestantes. O país descobriu em sua logística, que estoques estratégicos não são seu forte. E apareceu o óbvio: um país deste tamanhão não pode deixar de ter uma grande malha ferroviária.

 

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