Estou de volta das férias em Portugal. Fazia três semanas que não ouvia falar em assalto, homicídio, bala perdida. Do aeroporto para casa, senti que havia voltado. O carro não parava de sacudir, nas irregularidades do asfalto; do carro da frente, alguém jogou pela janela uma garrafa vazia; ao lado, outro nos ultrapassa produzindo, em sua aparelhagem de som, um barulho horrível de virabrequim quebrado. É o choque da volta. Voltei ao país desorganizado, cheio de corrupção e de gente que considera isso muito normal. Por aqui, a insegurança, a corrupção, os 170 assassinatos por dia têm sido assunto secundário. A moda é expor intimidades, discutir sexo, cor da pele, entrar nas ondas do politicamente correto, sempre que houver tempo recreativo, daqueles que não precisam sair de casa de madrugada para pegar a condução, passar o dia no trabalho ganhando pouco, e que voltam para casa cansados e prontos para o dia seguinte.
Terminando 2017 pode-se reconhecer que o governo realizou um segundo milagre econômico. O país estava no caos quando Dilma foi impedida de continuar. Um ano e meio depois, voltou a crescer a criar emprego, a ganhar valor real para o salário, com juros baixando, inflação bem baixa, investimentos de volta, sucesso nas contas externas, mas ainda precisando diminuir as despesas do estado. O déficit e a dívida pública são sérios entraves. O estado é inchado, cheio de gorduras e com pouco músculo, a não ser na capacidade de cobrar impostos. Os serviços públicos são ruins e quase nada sobra para investir. Os impostos servem para sustentar o estado.
O governo tenta diminuir o déficit com uma tímida reforma na Previdência. Mais discreta que aquela que o então ministro da Fazenda Antônio Palocci recomendou ao presidente Lula que fizesse, em 2007. As centrais sindicais ameaçaram e o presidente recuou. Agora o déficit se agigantou e não tem mais jeito. São as mesmas centrais que se revoltam contra a modernização das leis trabalhistas. Juízes com cacoete de sindicato, falam em não aplicar a lei, como se eles tivessem mandato de legisladores. Incrivel como se aposta contra o país. Como eu já escrevi aqui: parece que somos masoquistas.
Agora o que ocupa a classe política não é com os temas que sufocam a população, como altos tributos, burocracia, saúde e educação precárias, insegurança pública, dificuldades de trânsito, infraestrutura do passado, crise ética, desorganização urbana e tantas outras mazelas. O que vem preocupando os políticos são as eleições no ano que vem. Como conquistar o poder? – perguntam os opositores. Como permanecer no poder? – perguntam os governistas. Eles estão atrás das respostas. Será que terão respostas para as demandas da população? Dá um calafrio na espinha só de pensar que temos elegido, com o nosso voto, pessoas que só tem contribuído para afundar o país. Mas insisto que pode haver trigo nesse joio. Afinal, brasileiro é esperançoso.
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A esperança no desespero
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