Nesta quarta-feira (19), os preços da soja foram intensificando suas altas ao longo do dia e fecharam o pregão com altas de mais de 10 pontos na Bolsa de Chicago e apenas o vencimento agosto/17 ainda trabalha abaixo dos US$ 10,00 por bushel. O novembro, que é referência para a nova safra dos EUA, e o contrato mais negociado nesse momento, encerrou os negócios com US$ 10,12.
O clima permanece no foco da movimentação das cotações no mercado futuro norte-americano e previsões indicando ondas de calor no Meio-Oeste nos próximos dias ajudaram a puxar as cotações nesta quarta. Para esta semana, são esperadas temperaturas de mais de 37ºC no Kansas, Missouri e demais pontos do Corn Belt.
E os mapas atualizados pelo NOAA, o serviço oficial de clima do governo americano, seguem mostrando um tempo ainda muito quente e seco para os intervalos dos próximos 6 a 10 e 8 a 14 dias. Ou seja condições adversas poderiam ser observadas ainda em agosto, que é um mês determinante para a cultura da soja nos Estados Unidos.
“É só clima. E nas próximas semanas, o mercado vai depender disso também. Toda a expectativa está na previsão para as próximas duas semanas e, além disso, as previsões mostram ainda clima quente e seco durante todo mês de agosto”, explica Steve Cachia, diretor da Cerealpar e consultor do Kordin Grain Terminal, em Malta, na Europa.
Embora ainda haja um tempo considerável para a conclusão da nova safra norte-americana – a maior parte das lavouras de milho, neste momento, está na fase de pendoamento, e as de soja, em florescimento – as adversidades climáticas observadas até este momento já indicam, ainda de acordo com especialistas, um menor potencial produtivo de ambas as culturas.
Segundo informações apuradas pelo portal internacional Farm Futures, “os produtores americanos continuam informando uma deterioração de sua safra, com muitos dizendo ainda que receberam chuvas demais ou chuvas de menos”. Mesmo assim, segue o consenso de que as situações mais complicadas continuam a ser observadas nas Planícies do Norte, onde a seca pegou em cheio a soja, o milho e o trigo de primavera nas Dakotas.
Mercado Brasileiro
A volatilidade da soja no mercado internacional tem impactos diretos sobre o andamento dos preços no mercado brasileiro, porém, as recentes baixas do dólar ainda limitam o avanço das cotações. Assim, no interior do Brasil, o dia foi, mais uma vez, de preços estáveis em quase todas as praças de comercialização. A moeda americana caiu nesta quarta e foi abaixo de R$ 3,15.
Apenas algumas localidades de Mato Grosso se apoiaram nos ganhos em Chicago e fecharam o dia em campo positivo, com altas de até 1,03%, como foi o caso de Itiquira, com R$ 59,00 por saca. Já no Oeste da Bahia, por exemplo, foi registrada uma queda de 1,26% para R$ 58,75.
Nos portos, os preços não obedeceram um mesmo caminho. Em Rio Grande, R$ 72,00 no disponível e R$ 76,00 para safra nova, com estabilidade em ambas as referências. Já em Paranaguá, alta de 1,4% no disponível, para R$ 72,50, e de 0,68% para R$ 74,00 na safra nova.
O presidente da Aprosoja MT, Endrigo Dalcin, está de passagem pelos Estados Unidos e pôde conferir de perto as condições das lavouras norte-americanas e alerta: “É uma fase crítica e se esse tempo mais seco persistir, teremos quebra de safra com certeza. O potencial produtivo não se expressa com essa falta de água nesse período crucial para determinar a produtividade das lavouras”.
Nesse quadro, e com a situação podendo mudar caso novas chuvas comecem a chegar ao Corn Belt, Dalcin lembra ao produtor brasileiro que é importante acompanhar e aproveitar as oportunidades que possam vir a surgir com o mercado climático americano.
Nesse momento, o produtor brasileiro, porém, ainda tem na memória as posições praticadas há duas semanas, como explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, que foram de R$ 75,00 a R$ 77,00 para o disponível e de R$ 78,00 a R$ 80,00 para a safra nova nos portos. “E como o mercado está pagando cerca de R$ 3,00 a menos, isso anula as intenções de venda. Os vendedores praticamente sumiram e até que não passe esse período de ‘maturação’ da ideia de que o mercado vai mudar, ele vai demorar pra voltar aos negócios”, diz Brandalizze.