A semana foi de intenso recuo para os preços da soja na Bolsa de Chicago, com as perdas sendo intensificadas nesses últimos dias após a divulgação do novo boletim mensal de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) e da chance maior de uma guerra comercial entre China e Estados Unidos.
Somente no pregão desta sexta-feira, os futuros da oleaginosa cederam mais de 2%, e no acumulado semanal, quase 3% entre os principais contratos. Com isso, o vencimento maio/18 encerrou seus negócios valendo US$ 10,39 por bushel.
Segundo explicou o economista e analista de mercado Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais, a altas dos estoques finais norte-americanos para 15,1 milhões de toneladas – em um momento em que já está consolidada uma quebra muito severa na safra da Argentina – não eram esperadas pelo mercado.
“Se o USDA fosse mexer nos estoques, que fosse para reduzi-los”, disse, explicando ainda da necessidade dos compradores buscarem mais produto norte-americano diante de uma menor disponibilidade do grão argentino. Nem mesmo um esmagamento consideravelmente maior nos EUA foi considerável, uma vez que o farelo argentino também deverá estar mais escasso nesta temporada.
Além dos estoques, o departamento baixou ainda as exportações dos Estados Unidos na temporada em aproximadamente 1 milhão de toneladas, quando o mercado esperava uma revisão ligeiramente positiva ou, ao menos, uma manutenção.
Entrentanto, como explica o analista Mário Mariano, da Novo Rumo Corretora, apesar dos bons números das vendas semanais observado no boletim desta quinta-feira (8), também do USDA – de mais de 2 milhões de toneladas – o ritmo ainda está lento e é insuficiente para atingir a meta anterior do departamento. Até fevereiro, os números eram de 57,15 milhões de toneladas, passando para 56,2 milhões.
Além de um ritmo mais lento do que o observado, principalmente, em relação ao do ano comercial anterior, uma tensão maior sobre a guerra comercial travada entre os chineses e os americanos traz incertezas sobre o comércio da soja entre os dois países e poderia provocar, ainda segundo Mariano, eventuais cancelamentos de compras por parte da China.
“Somadas as produções do Brasil e da Argentina seriam insuficientes para exportar soja para a China por questões de logística, de tempo de colheita, de embarque. Portanto, podem se arrastar essas discussões políticas podem se arrastar entre chineses e americanos e precisamos saber ainda por quanto tempo e como serão feitas essas relações bilaterais”, afirma o analista da Novo Rumo.
Essas incertezas todas acabam motivando um movimento mais intenso de realização de lucros por parte dos fundos, os quais se mostram com elevadas posições compradas não só na soja, como também no farelo em Chicago. “Os fundos estavam lotados em suas posições compradas e agora estão aliviando”, afirma.
Na outra ponta, onde os fundamentos ainda são altistas para o mercado, estão as previsões de continuidade da seca na Argentina. Ontem, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires cortou sua estimativa para 42 milhões de toneladas e indica que novos cortes podem chegar nos próximos dias.
“A seca argentina, já consolidada, colocou grande parte dos bastidores de Chicago já na espera de grande redução nas estimativas para o país”, diz a AgResource Mercosul. E os próximos cinco dias ainda mostram poucas chuvas chegando ao país, com volumes que seguem limitados e muito localizados.
De acordo com previsões atualizadas do Serviço Meterológico Nacional (SMN) da Argentina, regime de chuvas seguirá abaixo do normal até maio e a área que sofre com a seca mais severa neste momento não deve receber chuvas significativas até a próxima semana.
O mercado brasileiro também registrou uma semana agitada, de melhor ritmo de negócios, mas de alguma espera do produtor por preços melhores e por algumas definições. No cenário cambial, o dólar perdeu, nesta sexta, 0,40% para fechar com R$ 3,2514. Na semana, acumulou uma leve alta de 0,02%.
“Aparentemente, os investidores estrangeiros não vão sair daqui (mercados brasileiros)”, afirmou o gerente de câmbio da corretora Fair, Mário Battistel à agência de notícias Reuters.
Assim, enquanto praças do interior registraram altas de 0,70% a quase 2%, outras acumularam baixas na mesma proporção. Nos portos, a semana terminou com as principais referências na casa dos R$ 79 por saca, depois de bater em até R$ 82 nos melhores momentos de Rio Grande.
No terminal gaúcho, a soja disponível fechou com R$ 78,90 e no indicativo maio/18 em R$ 79,70, enquanto em Paranaguá os valores ficaram em, respctivamente, R$ 79,40 e R$ 80,50.