Produtores e pecuaristas utilizam cada vez mais as ferramentas tecnológicas como apoio à atividade rural. Mas, em Mato Grosso, a dimensão continental do território ainda pouco povoado dificulta a expansão dos investimentos no setor de telecomunicação, travando o desenvolvimento dessas atividades econômicas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase metade (48,81%) dos domicílios mato-grossenses não possuía acesso à internet em 2015.
Se considerada apenas a população rural do Centro-Oeste, o IBGE aponta que 44,89% dos moradores não têm acesso à internet banda larga fixa e 42,27% não acessam a internet banda larga móvel. Já a parcela da população que trabalha ou vive no campo e possui acesso à telefonia e internet se depara com falhas básicas nesses serviços, que evidenciam a qualidade ruim e falta de investimentos pelas empresas concessionárias, avalia o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Endrigo Dalcin. “Essas empresas lucram virando as costas para o consumidor. Apenas nas cidades maiores o serviço funciona melhor”.
Com atuação no setor de Telecomunicações, o professor do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), José Benedito Martins, concorda que a melhoria do sistema de comunicação no Estado beneficiaria o agronegócio, setor que impulsiona a economia estadual, bem como a população em geral. “Temos municípios localizados a mais de 800 km da Capital, a exemplo de Vila Rica, Colniza e Aripuanã, que ainda se comunicam via satélite, com baixa transmissão de dados e voz”.
Para melhorar essas condições, as operadoras teriam que investir pesado em infraestrutura de telecomunicações, com rede de acesso via rádio e por fibra óptica, afirma ele. “Neste caso, teriam um retorno tardio dos investimentos devido à baixa demanda dos serviços e alto custo dos investimentos e de manutenção desta rede”.
Atualmente as operadoras de telefonia dividem os custos dos investimentos em rede de acesso por meio de parcerias entre si e com empresas de energia elétrica, explica Martins. Na telefonia móvel, existe o compartilhamento de torres de celular para agilizar investimento e reduzir o custo de implantação. “A própria dimensão do nosso Estado é um entrave para o crescimento do serviço de telecomunicação”.
Aplicativos para controle de pragas, plantio, previsão climática, gestão do rebanho e das vendas de bovinos são algumas das ferramentas atuais para o trabalho no campo. Por meio de um aparelho celular conectado à internet, o produtor pode ter literalmente nas mãos o controle de toda a atividade na propriedade. O avanço da tecnologia levou à zona rural máquinas agrícolas orientadas por GPS, drones, sensores inteligentes, entre outros.
Esses aliados do produtor rural tornaram as ações de plantar e colher, quase intuitivas no passado, muito mais objetivas. Com a agricultura de precisão a produtividade no campo aumentou. Para manter os bons índices de produtividade, o produtor depende das ferramentas tecnológicas funcionando perfeitamente, observa o presidente da Aprosoja.
“As máquinas precisam checar a velocidade e a quantidade de sementes que caem, por exemplo. Tudo é gerenciado por sistema eletrônico. Se tivesse sinal de celular na fazenda, imediatamente essas informações estariam disponíveis no smartphone, numa comunicação muito mais ágil. Quem está colhendo, faz um mapa de produtividade e poderia colocar essa informação em nuvem (para ser acessado de qualquer lugar e a qualquer hora por meio de hardwares e softwares conectados à rede)”, analisa Dalcin. “Agora a máquina tem que trabalhar o dia todo para depois descarregar essas informações (em um computador), no escritório. Tudo isso é um dificultador. Queremos usar o que há de mais moderno e não podemos”, reclama.
Com a ampliação da rede de internet e da telefonia celular em Mato Grosso, os produtores rurais também poderiam acessar de qualquer lugar os dados obtidos por estações meteorológicas instaladas nas propriedades e conectadas ao Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) ou Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Dessa forma teriam uma avaliação mais assertiva sobre o momento do plantio e da colheita.
As concessionárias de serviços de telefonia têm sido alvo de críticas do deputado estadual Valdir Barranco (PT), durante sessões na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT). “A falta de compromisso destas empresas com o consumidor é evidente. O sinal de telefonia móvel entregue por elas é péssimo, bem como o acesso à internet ou do compartilhamento da mesma entre celulares. Além disso, a internet via DSL também é muito ruim, bem como a transmissão do sinal via wi-fi. Não é possível que cobrem um valor tão alto pela prestação dos serviços e ofereçam produtos tão ruins”.
Na última quarta-feira (27), o parlamentar apresentou requerimento à Mesa Diretora no qual cobra explicações das empresas e a melhoria dos serviços no Estado. O deputado lembrou que as operadoras de telefonia com atuação em Mato Grosso (Vivo, TIM, Oi e Claro) foram alvo de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na ALMT em 2014 e assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Estadual (MPE), ALMT, Procon, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MT) e Defensoria Pública. “Ficou acertada a melhoria dos serviços e a ampliação da cobertura no Estado”.
Por meio de nota, a Telefônica Vivo informou que cobre 74 municípios de Mato Grosso com a tecnologia 3G. Outras 34 cidades mato-grossenses são atendidas com a tecnologia 4G e duas cidades (Cuiabá e Várzea Grande) são atendidas com a tecnologia 4G+, duas vezes mais rápida que o 4G atual. “A Vivo investe na região com o uso da frequência do 4G em 700 MHz, já que essa faixa oferece melhor propagação e penetração de sinal, permitindo a ampliação da cobertura”, registra.
Para o triênio 2017-2019, a Vivo estima investir R$ 24 bilhões em todo o país, principalmente para a expansão da cobertura 4G e a ampliação da rede de fibra.
Por sua vez, a Claro informou que detém 25,25% do mercado mato-grossense, investe continuamente em infraestrutura e trabalha para ampliar a cobertura com qualidade. No Estado, a operadora cobre mais de 92% da população e atende 1 milhão de clientes com as tecnologias 2G, 3G e 4G. “A Claro mantém um plano robusto de investimentos para modernização e expansão de sua rede”, afirmou a diretora regional Claro Centro-Oeste, Soraia Tupinambá.
Já a TIM possui cobertura 4G em 18 municípios e cobertura 3G em 29 municípios de Mato Grosso. De acordo com o gerente de engenharia da TIM Centro-Norte, Anderson Silva Machado, a empresa implementará a rede 4G em mais 17 municípios mato-grossenses até o fim deste ano, totalizando 35 municípios com cobertura 4G. Desses 35 municípios, 23 contarão com a faixa de 700 MHz, garantindo melhor cobertura nessas cidades. No triênio 2017-2019, a empresa investirá R$ 12 bilhões no país.
Procurada pela reportagem, a Oi não se posicionou sobre a prestação de serviços em Mato Grosso até o fechamento desta edição.