Os preparativos para a próxima safra de soja começaram sob condições menos atrativas. Com o patamar de preços num nível menor ante o último ciclo, o sojicultor mato-grossense precisará garantir produtividade acima da média das últimas safras para ter lucro. Estimativa elaborada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) indica que será necessário colher, em média, 58 sacas por hectare no Estado. Essa produtividade fica acima do volume obtido na temporada 2016/2017, quando o rendimento médio das lavouras foi recorde e ficou em torno de 56 sacas por hectare.
Para a safra 2017/2018, o custo de produção está estimado em R$ 3,450 mil pelo Imea. Já a cotação média da soja no Estado alcançou R$ 53,66 a saca (60 kg) no fim de junho. Com a produtividade de 54,12 sacas/ha projetada pelo Imea, a rentabilidade por hectare seria de R$ 2,904 mil/ha, considerando o preço médio atual da oleaginosa. Em junho do ano passado, a saca do grão chegou a ser vendida pelo valor inédito de R$ 82,30.
Se considerado este preço para uma produtividade média de 56 sacas por hectare, o sojicultor matogrossense garantiu R$ 4,608 mil por hectare ocupado com a cultura. O custo de produção na última safra foi de R$ 3,683 mil, como registra o Imea, em seu último boletim semanal, divulgado na segunda-feira (26). Já a soja negociada para ser entregue em março de 2018 está precificada em R$ 60 a saca. A diferença em comparação com março de 2017 é de 14,28% para menos atualmente, sendo que naquele mês a cotação estava em R$ 70.
Esta formação de preços ocorre de fora para dentro, ou seja, as condições do mercado internacional influenciam os valores da oleaginosa no mercado interno. Fatores como a flutuação cambial refletem diretamente. Os preços são internacionais a partir das cotações na bolsa de Chicago (CBOT) e propostos pelas tradings que negociam a soja para exportação. Na semana passada, a cotação da soja estava em US$ 9,42 por bushel, enquanto no ano passado chegou a US$ 10,74/ bushel. Além disso, o dólar atual está a R$ 3,33, ante o patamar de R$ 3,40 no mesmo período de 2016.
“O produtor terá que garantir uma boa produtividade”, afirma o gestor técnico do Imea, Ângelo Ozelame. “Tem muitos que conseguem colher mais que isso (58 sacas/ha), mas outros menos”. Outro aspecto a ser considerado pelo produtor é o prêmio pago pela soja no porto, sempre atrelado ao dólar. Neste ano, está em torno de 60 centavos de dólar por bushel, ante a média anterior de US$ 1,60 por bushel.
Na percepção do vicepresidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), Elso Pozzobon, uma alternativa para melhorar a média de produtividade na próxima safra e equilibrar o custo de produção é deixar de plantar nas áreas marginais, recém-formadas e de solo menos fértil. “Do contrário, a média de produtividade será influenciada por essas áreas”. Contudo, ainda é prematuro falar em rendimento da safra 2017/2018, complementa. Outro aspecto considerado por ele é que se o custo de produção estiver elevado, o produtor tende a diminuir o uso de fertilizante para equalizar os gastos.
Custo de Produção
A última atualização de custos de produção da soja pelo Imea apurou o total de R$ 3,450 mil por hectare, abaixo do ano passado quando chegou a R$ 3,693 mil por hectare. “O recuo na cotação do dólar impacta de forma benéfica o custo de produção”, observa Ozelame. A cotação da moeda americana frente ao real é o fator que mais impacta o custeio da safra, que recuou de R$ 2,176 mil em 2016 para R$ 1,993 mil este ano.
O vice-presidente da Aprosoja estima que 60% dos sojicultores já negociaram os fertilizantes, sementes e químicos com antecedência de até 7 meses. “Provavelmente eles caíram neste custo de produção alto”. Ainda assim, acredita que conseguirão equilibrar os custos e comprar o restante dos insumos em condições mais vantajosas.
O gestor técnico do Imea explica que a negociação da produção deve ser baseada no custo de produção, levando em consideração se está tendo lucro naquele momento ou não. Ele sugere buscar recuperar o histórico de comercialização das safras anteriores e comparar com a atual. “Cada propriedade tem sua particularidade, então é preciso saber qual é a lucratividade dos anos anteriores e avaliar se na atual está tendo lucro”. Neste processo que orientará a tomada de decisão é muito importante saber o custo de produção para fazer comparações de produtividade. “Preço com produtividade diz muito”.
Comercialização
Conforme observam os analistas do Imea no boletim semanal, o mercado da soja em Mato Grosso voltou a apontar lentidão nas negociações em junho, após apresentar volumes consideráveis de vendas em maio, quando o dólar registrou alta ante o real. Até o momento, o valor médio da saca de soja é de R$ 53,66, abaixo daquele verificado em maio e inferior ao ponto de equilíbrio da safra, que é de R$ 54,57. “Se for comparado a junho de 2016, quando a soja registrou preço nominal inédito, de R$ 82,30/saca na média de junho, a diferença em relação a este ano torna o produtor menos negociador neste momento, fazendo muitos travarem as negociações aguardando melhores oportunidades para negociação da safra atual”, apontam os analistas em trecho do documento.
No momento, a expectativa do mercado brasileiro se volta à divulgação do novo relatório de produção da soja norte-americana, pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Caso seja anunciado um novo aumento na área que está sendo semeada, a pressão baixista sobre as cotações internacionais poderá aumentar e isso refletirá diretamente no mercado interno, alerta o Imea.
Conforme o vice-presidente da Aprosoja, os sojicultores brasileiros estão dependentes do desenvolvimento da safra norte-americana. “A área plantada e as condições climáticas influenciam muito e parece que nesta safra o clima não será tão favorável aos produtores dos Estados Unidos”, comenta. “Mas, se a safra americana não apresentar problemas, não há tendência de melhora de preços no mercado”, conclui.
Segundo projeção do ItaúBBA, a área plantada de soja deve crescer 7% sobre o ciclo anterior. A perspectiva é de mais uma safra global recorde. Para o cenário de rentabilidade da safra de soja 2017/2018, as margens operacionais são semelhantes à observada na temporada 2016/2017. Os consultores avaliam que o custo de produção poderá não cair em relação à safra anterior e os preços só se recuperarão de maneira mais significativa se houver um choque climático que cause queda expressiva de produção em algum dos maiores produtores mundiais (Estados Unidos, Brasil, Argentina).
“Este cenário desperta especial atenção para aqueles produtores que possuem compromissos com pagamentos de arrendamento e apresentam níveis altos de alavancagem, já que qualquer choque de produtividade poderá comprometer a capacidade de pagamento de produtores com esse perfil”, pontuam. Outro risco está no descasamento cambial, mediante o cenário político instável do Brasil. Se uma forte desvalorização do real ocorrer em período de vencimento de contrato em dólar, o produtor enfrentará pressão de caixa, observam.