A produção de peixes cresceu 3,5% em Mato Grosso no ano passado, com a fabricação de 62 mil toneladas (2016 registrou 59,9 mil/t). O número coloca o Estado na 4ª posição do ranking dos maiores produtores de peixes do Brasil. O país produziu 691,7 mil/t, com crescimento de 8% sobre 2016 (640,51 mil t). No Brasil, o crescimento foi puxado pelo aumento de 13,48% na produção de tilápia, principalmente.
A espécie ainda é pouco produzida em Mato Grosso, mas tem grande potencial de evolução nos próximos anos, após a liberação para a produção do peixe exótico em tanque rede, por meio da Lei Estadual nº 10.669, de janeiro. Os dados são da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) e integram o Anuário da Piscicultura Brasileira.
O presidente executivo, Francisco Medeiros, estima que o crescimento da produção nacional se deve também à ampliação do mercado. Mato Grosso, que passou da 1ª posição em 2014 para a 4ª em 2016 no ranking nacional, sofreu com o atraso na legislação, principal entrave para a evolução na produção de tilápia, que representa 51,7% do volume da piscicultura nacional (357,639 mil toneladas em 2017).
“Em Mato Grosso a queda aconteceu principalmente pela perda de valor do peixe tambatinga. Houve um aumento no custo de produção, de ração e mão de obra, sem que houvesse compensação de preço e os produtores deixaram de povoar os tanques. O peixe nativo no Brasil sofre um problema sério de mercado. O crescimento no ano de 2017 foi de apenas 1,84%, enquanto que o da tilápia chegou a 13,48%”, afirma o presidente da Peixe BR.
A expectativa é que a liberação para a produção de tilápia em estados como Mato Grosso e Tocantins incremente ainda mais a produção de peixes. “No ano de 2018 devemos crescer algo em torno de 10%. Nos próximos anos, ocorrendo a liberação da cessão de águas da União através da Secretaria de Pesca e Aquicultura, teremos um crescimento aproximado de 15% a 20% ao ano”.
João Pedro Gaspar da Silva, proprietário de uma empresa da área, informa que a empresa ampliou em 10% a sua área de lâmina d’água no ano passado. Com 500 hectares atualmente, a companhia produz 5 mil toneladas de peixes, das espécies tambaqui, tambatinga e pintado. Planeja ainda ampliar a área novamente este ano, chegando a 650 hectares para produzir 6 mil toneladas. “Tudo que produzimos é comercializado e estamos aumentando a produção para poder suprir a demanda existente, porque todo ano é crescente”.
Herbert Carli Junior, coordenador de Piscicultura de outro grupo, informa que a empresa também ampliou em 15% a produção em 2017 e produz atualmente mais de 3 mil toneladas/ano. O volume deverá crescer ainda mais, chegando a 4 mil toneladas em 2018, com ampliação de 30% na produção. “Existe um mercado e queremos fazer parte dele. Hoje, se tivéssemos uma produção maior já venderíamos, porque a demanda vem crescendo e não conseguimos atender”.
Campo Verde, Canarana e Juscimeira são os municípios que agregam os 300 hectares de lâminas d’água, que se dividem em 3 unidades de produção em tanque escavado e uma unidade em tanque rede, onde são produzidas as espécies tambaqui, tambatinga, pintado do Amazonas e tilápia. A empresa abate somente 15% da produção (450 toneladas) e o restante vai para frigoríficos de outros Estados, como Brasília, São Paulo, Goiás, Distrito Federal e parte do Nordeste. “Temos um planejamento de produzir acima de 15 mil toneladas por ano a partir de 2022. Só então, teremos capacidade de abrir (o produto) ao mercado externo”.
A produção de tilápia da empresa é feita em tanque escavado e a aprovação da legislação estadual irá permitir que a ela avance em tanque rede. “Agora existe a expectativa de regulamentação pelos órgãos ambientais. O tambaqui está em processo de evolução e a tecnologia está muito atrás do que já existe para a tilápia, que permite a produção em grande volume. Isso é um dos fatores que vai permitir que o mercado do peixe evolua. A proteína precisa ser mais barata para o consumidor para que aumente o consumo, a exemplo do que aconteceu com o frango”.
Daniel Melo, presidente da Associação dos Aquicultores de Mato Grosso (Aquamat), diz que o mercado da piscicultura estadual tem crescido. “Apesar do ano passado ainda ter sido de uma economia instável, o mercado melhorou. Está aumentando a demanda pelo peixe nativo no Centro-Oeste, principalmente em Goiás e Distrito Federal”.
Cerca de 70% do volume produzido em Mato Grosso é consumido dentro do próprio Estado. Para este ano, ele estima aumento aproximado de 10%. “Começou a se usar muita tecnologia na piscicultura, o que aumentará a produtividade, principalmente com a liberação da tilápia”.
Segundo Melo, já há cerca de 42 outorgas somente da região do Manso à espera da liberação para produção da tilápia. “Temos toda a capacidade de conseguir voltar à primeira colocação no ranking nacional. Saímos porque outros Estados investiram na tilápia. Temos a produção local de ração, o que facilita a produção e os preços mais competitivos. Necessitamos de um centro de recebimento de peixes, para que os pequenos produtores possam fornecer às indústrias, além de melhorar a estrutura de Vigilância Sanitária, para que mais frigoríficos venham operar no Estado”.
De acordo com a Peixe BR há 6 frigoríficos com inspeção federal em Mato Grosso, o que não é suficiente para atender toda a produção.