O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso em 2017 está estimado em 5,1%, a maior expansão entre os estados brasileiros, desempenho impulsionado mais uma vez pela agropecuária. Vinte estados crescerão economicamente este ano e 7 terão contração no PIB, notadamente o Rio de Janeiro, com taxa negativa de 1,4%. A estimativa foi traçada pelo banco Santander, que revisou o crescimento do PIB brasileiro em 2017 de 0,7% para 0,5%.
Os indicadores foram divulgados em meados de agosto e compartilhados com clientes da instituição financeira. Para 2018, o banco prevê crescimento de 2,5% no PIB, ante a previsão anterior de 3%. O crescimento do PIB (soma dos bens e serviços produzidos num determinado período) mato-grossense espelha a realidade da economia estadual, baseada na agropecuária.
A principal atividade econômica do Estado conduz outros setores, como o industrial e de serviços, observa o economista e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Ivo Leandro Dorileo. Esse crescimento econômico é percebido principalmente nos municípios produtores de grãos e constatado no abastecimento de alimentos, na geração de empregos, renda, arrecadação tributária, acúmulo de capital e desenvolvimento humano, complementa o economista Ernani Lúcio Pinto de Souza.
Contudo, a riqueza gerada no Estado não se irradia por todos os municípios e entre toda a população, contrapõe Dorileo. Até mesmo nos municípios produtores de commodities agropecuárias os benefícios são limitados ao baixo índice de desemprego, ao atendimento à saúde mais avançado e à taxa de pobreza menos alarmante, pontua o professor. “Com a economia baseada na exportação de produtos in natura nesses municípios os salários são menores, a distribuição de renda é inadequada e desigual e a riqueza dos municípios torna-se concentrada, indisponível à maioria das pessoas”.
Deve-se considerar que a maior parte da população mato-grossense vive nas cidades, onde as desigualdades socioeconômicas são mais evidentes, prossegue o economista. Para ele, a população urbana deveria auferir como fruto do trabalho a satisfação, bem-estar e a partilha de riquezas. “Mas, não é o que se vê uniformemente distribuído, como mostra o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”.
Ivo Dorileo sintetiza que o crescimento do PIB não significa, necessariamente, aumento do bem-estar social da população. “É preciso que ele seja acompanhado de um ‘progresso social’ com emprego, renda, trabalho, saúde, educação, moradia e justiça com menores desigualdades”.
Nos últimos anos, a economia brasileira estagnou com baixo crescimento decorrente da queda na atividade industrial e no setor de serviços. “Como o Brasil tem apresentado forte retração de investimentos e de demanda interna, baixo consumo das famílias e endividamento, seu PIB não cresce tanto”, pontua o economista Ivo Dorileo.
Como a agropecuária conduz o crescimento em todo o país, Mato Grosso na condição de grande produtor de grãos e carnes voltado à exportação se torna o propulsor desse resultado e assim figura entre os maiores crescimentos de PIB do Brasil. Já o economista Ernani Souza pondera que Mato Grosso investe no setor primário e a crise econômica enfrentada no país está atrelada à dificuldade da indústria em retomar as atividades. “Isso faz com que alguns estados tenham taxas de crescimento baixas ou negativas. Quando efetua-se o cálculo das médias ponderadas entre esses estados, uns se destacam, como é o caso de Mato Grosso, diante do conjunto do país”.
Segundo o Santander, o PIB de Mato Grosso cresce (taxa de crescimento real) acima da média nacional na agropecuária (16,2% em Mato Grosso, ante 8,5% no Brasil) e no setor de Serviços (0,8% em Mato Grosso e -0,1% no Brasil), mas com desempenho mais tímido na Indústria (0,5% em Mato Grosso e 0,6% no Brasil). Favorecido pelo território extenso e clima propício, Mato Grosso se sobressai na atividade agropecuária, comenta o professor Ivo Dorileo. “Muitos investimentos e pesquisas foram realizados e continuam sendo implementados no campo visando ao aumento da área agricultável”.
Contribuem também para a liderança estadual na produção agropecuária os incentivos governamentais, juros baixos, tecnificação agrícola e intensificação da demanda. Para o economista Ernani Souza, o apoio tecnológico, diversificação e sustentação de grandes mercados consumidores estimulam o crescimento da agropecuária. Soma-se aos elementos anteriores a perspectiva de sustentabilidade, o crédito subsidiado, a desburocratização, a necessidade mundial por alimentos e a concorrência global.
Mantido o ritmo da produção agropecuária mato-grossense e o comportamento do mercado externo, é possível que o PIB de 2018 apresente crescimento superior ao atual, avalia o professor Dorileo. Se confirmada essa perspectiva, Mato Grosso manterá uma tendência dos últimos anos. Conforme ele, a expectativa é de bom desempenho do agronegócio e aumento da demanda doméstica, com recuperação do consumo das famílias e retomada da atividade industrial.
A análise é corroborada pelo economista Ernani Souza. “Ceteris paribus, ou seja, mantendo-se as mesmas condições climáticas, disponibilidade de insumos, infraestrutura, razoabilidade tributária, mão de obra, remuneração do investimento e isso tudo associado a mercados consumidores cativos e com tendência de retomada do crescimento interno é provável que 2018 seja melhor e mais eficiente”, avalia.