Pela primeira vez pesquisadores detectaram a presença da mosca branca (Bemisia tabaci) do biótipo Q, em uma floricultura de Sinop. Considerada invasora no Brasil, esta raça tem como característica ser naturalmente mais resistente a uma gama de inseticidas utilizados na agricultura. Essa é a primeira vez que esses indivíduos são encontrando em Mato Grosso. Ainda não se sabe se já há presença desta raça nas lavouras da região.
A identificação foi feita em um trabalho coordenado pelo pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, Rafael Pitta, com auxílio de alunos de graduação do curso de Agronomia da UFMT, e contou com ajuda de pesquisadores da Unesp de Botucatu (SP), onde foi feita a identificação por meio da biologia molecular. A análise do DNA é a única forma de diferenciar as raças, uma vez que são visualmente idênticas.
A mosca branca biótipo Q é originária da região do Mediterrâneo. Ela foi coletada e identificada pela primeira vez no Brasil no fim de 2013 por um grupo de pesquisadores em lavouras no Rio Grande do Sul. Desde então vem se espalhando pelo país, já sendo presente nos estados do Sul, em São Paulo e também em Goiás. Transmissora de viroses, a mosca branca causa danos em diversas culturas, com maior impacto econômico em pimentão, soja e algodão.
De acordo com Rafael Pitta, a iniciativa da busca pela praga em Mato Grosso começou após assistir a uma apresentação em um evento científico na qual viu que esta raça de mosca branca está presente em plantios de flores no estado de São Paulo. Como plantas daquela região são enviadas para todo o país, possivelmente já haveria indivíduos em outras regiões.
Alunos de uma disciplina ministrada por Rafael no curso de Agronomia da UFMT coletaram moscas brancas em tomateiro, hibisco, rabo de gato, trombeta de anjo e lantana em uma floricultura e nos jardins das próprias residências. De todos os indivíduos analisados, dois dos cinco presentes na lantana eram do biótipo Q. As demais eram do biótipo B, mais comum na região.
O pesquisador explica que a descoberta abre a necessidade de novas pesquisas para verificar se esta raça de mosca branca já está presente nas lavouras do estado. O risco maior é para as culturas da soja e do algodão.
“Como esta raça é resistente a uma gama de inseticidas, a pulverização das lavouras poderá selecionar indivíduos desta raça, tornando mais difícil e mais caro o controle da mosca branca”, explica Rafael Pitta.
De acordo com o pesquisador, enquanto não se aprofunda na investigação, a melhor ferramenta de prevenção é o manejo integrado de pragas (MIP).
“O exagero nas aplicações aumenta a pressão de seleção desta raça, favorecendo o estabelecimento dela nas lavouras. O melhor a fazer é monitorar a lavoura e somente aplicar o inseticida quando a infestação atinge o nível de dano”, orienta o pesquisador da Embrapa.