Em uma década, Mato Grosso registrou 30 mortes de trabalhadores em silos de grãos, o que o coloca no primeiro lugar do ranking nacional. Sorriso, que a maior produtora nacional de grãos, e Canarana (823 km de Cuiabá), município destaque na produção de gergelim, dividem a primeira posição no ranking das mortes. Cada uma registrou 7 óbitos durante esses 10 anos.
Um dos mais grave do Estado ocorreu em Canarana, em abril de 2013. Foram 4 mortos. Vitor Domingos dos Passos, Luciano dos Santos da Silva, 19, Eiangi Marcelo Kalapalo, 33, e Carlos Alexandre Rodrigues dos Santos, 19, não sobreviveram ao desabamento do silo. Eles faziam a limpeza do local, quando uma das estruturas de metal, cheia de soja, se rompeu. Os corpos de 3 deles foram resgatados no mesmo dia. Carlos Alexandre foi encontrado somente na manhã seguinte.
Os dois últimos registros desse ano ocorreram no setembro. No dia 13, Jocilei Alves dos Santos, 19 anos, foi soterrado em um silo de uma fazenda em Lucas do Rio Verde. O Corpo de Bombeiros teve que retirar todo o milho para encontrar o corpo da vítima. Três dias antes, Wellington Mariano, 30, caiu em um silo graneleiro em uma fazenda em Querência (945 quilômetros de Cuiabá). Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Foram os próprios colegas de Wellington que esvaziaram parte da soja que estava armazenada no silo e retiraram a vítima.
No dia 22 de março deste ano, Francisco Carlisson da Conceição, 29 anos, morreu sufocado em um armazém de farelo de milho, utilizado para produção de ração. O caso foi registrado em uma fazenda em Santa Rita do Trivelato (445 quilômetros de Cuiabá). O trabalhador teria descido em uma moega (máquina que recebe grãos) para fazer a remoção do produto, quando foi sufocado pelos farelos. Mas são Acidente mais
Em Campo Verde (131 km ao Sul de Cuiabá), dois homens morreram após serem sugados pela carga de soja. Em Campo Novo do Parecis (396 km a Noroeste), a história de um trabalhador, soterrado no milho, teve um desfecho diferente, geralmente raro. Na terça-feira de carnaval, 4 de março deste ano, Ronei Ifrain Ribeiro, 48 anos , trabalhava na limpeza de uma moega para o recebimento de grãos. Há 13 anos, ele atua no ramo e há pouco mais de dois meses estava na empresa onde ocorreu o acidente. “Estávamos tirando o milho para receber a soja.
Quando fui passar para o outro lado da moega, fui sugado”, lembra. Sem os equipamentos de proteção individual, Ronei ficou cada vez mais preso aos grãos. Foram mais de 3 horas, quase submerso. “Cheguei a engolir um pouco de milho”, conta.
Os colegas que estavam próximos tentaram auxiliar o trabalhador, mas como já estava praticamente preso, não foi possível fazer a retirada. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros foram acionados para realizarem o resgate. O soldado Itagene Pedroso de Barros Júnior foi um dos bombeiros que atuou naquele dia e para realizar o resgate teve que entrar na moega. Outro bombeiro também estava lá dentro, mas não próximo a Ronei. O trio estava em perigo porque o milho estava escorregadio.
Soldado Itagene Júnior comenta que os outros funcionários tentavam sugar o máximo possível de grãos para evitar que todos afundassem ainda mais. “Eu sentia muita pressão no meu corpo”, lembra Ronei. Um pedaço de madeira foi colocado para o apoio do funcionário e, depois, com o auxílio de uma fita e uma empilhadeira, o trabalhador foi retirado. Praticamente uma semana depois, o funcionário já estava de volta ao trabalho e hoje, afirma que mantém a segurança em primeiro lugar.
Em todo o país, foram pelo menos 108 óbitos, a maioria por soterramento. O número tem como base as ocorrências que foram noticiadas pela mídia durante o período de 2009 a 2019. O quantitativo pode ser ainda maior, diante da subnotificação e dificuldades em catalogar o registro. Os dados são de um levantamento realizado pela BBC News Brasil, que buscou as notícias dos casos, foi possível identificar que as mortes aconteceram no período de 2009 a 2019 (até setembro).