Pe. Karl ainda lembra-se com emoção quando em 19.06.1968 desembarcou do navio Italiano Cezar Augusto, no porto de Santos, as 10h da manhã.
Estava combinado que um padre amigo, que morava no Estado do Rio Grande do Sul iria recepcioná-lo no porto, no entanto, o amigo não chegou e Karl ficou no cais do porto, sem nenhuma referência e sem saber falar português.
Procurou então pela casa do bispo diocesano que o recepcionou cordialmente. Aquele dia foi o primeiro em que Karl conheceu o “arroz com feijão”, que inclusive achou muito gostoso, talvez na oportunidade, pela fome que estava.
Duas semanas mais tarde viajou para São Paulo onde visitou na praça da Sé a Igreja de São Gonçalo; lá conheceu o Ppdre Jesuíta Afonso Rodrigues que o acolheu e encaminhou para a Faculdade de Filosofia N. S. Medianeira na capital mesmo, onde fez exame de admissão e ingressou na seqüência de seus estudos. Como não falava nada em português, gravava as aulas em fita cassete e com a ajuda de um amigo cego, noites adentro, com muita dificuldade foi traduzindo as aulas e aprendendo o português.
Após a conclusão dos estudos de filosofia seguiu para a PUC do Rio de Janeiro para os estudos de Teologia.
Em março de 1973, em uma visita oportuna ao colégio Ancheta em São Paulo, Karl teve um feliz encontro com Dom Henrique Fröhlich, então bispo de Diamantino, o qual após uma breve entrevista convidou o seminarista Karl para trabalhar com ele na Diocese de Diamantino. Seguindo os estudos religiosos, em maio/1973 foi ordenado diácono e em 9.11.1975 recebeu das mãos do Dom Henrique Fröhlich a ordenação sacerdotal na Catedral de Diamantino.
Já no primeiro dia de ordenação prometeu celebrar uma missa aos agricultores na zona rural da cidade de Arenápolis, distante 33km da cidade, onde, acompanhado com mais dois amigos, todos de bicicleta e o Pe. Karl com a maleta de missa na garupa, saíram em baixo de chuva, em direção ao local chamado “pela jegue”, sendo que pelo caminho tinham que passar por uma fazenda com muitos bois no pasto. Os dois amigos do Pe. Karl disseram que a boiada era brava, mas o padre, recém ordenado, disse a eles “com a força de Deus nem um boi vai nos atacar”, mas a fé não foi tanta assim… a boiada começou a vir em direção aos três que abandonaram imediatamente as bicicletas e subiram nas árvores. Passado algum tempo a boiada afastou-se e então conseguiram pegar as bicicletas e seguir o caminho.
É claro que a inculturação no Mato Grosso foi de extrema dificuldade, ambiente estranho, sol quente, já no primeiro ano enfrentou uma forte malária. Além disso, na casa do bispo não tinha o costume de tomar cerveja, igual ao costume alemão de cerveja sempre disponível, isso acabou taxando-o com o apelido de “cerveja”, vem cá “cerveja”, vai lá “cerveja”.
Por falta de veículos os padres (irmãos Jesuítas) da casa, não confiavam na habilidade do Pe. Karl em dirigir, enfrentando assim longas viagens de bicicleta, inclusive de Diamantino a São José do Rio Claro, distante 120 km que fez de bicicleta levando o dia inteiro. Como padre recém ordenado, encarava todas as dificuldades com naturalidade por amor ao Reino de Deus. A preocupação se dava quando viajava com o bispo Dom Henrique de jipe, visto que o bispo tinha “pé pesado”, de tal maneira que em uma determinada viajem o Pe. Karl chegou a colar um pedaço de madeira em baixo do acelerador do carro, fazendo assim um calço que limitava as “pisadas na gasolina”, armação descoberta já nos primeiros quilômetros pelo bispo que estranhou a lentidão do carro.
Pe. Karl em 1978 assumiu a primeira paróquia que foi na cidade de Denise onde junto às atividades pastorais desenvolveu trabalhos sociais de grande valia para a região, como a implantação de cooperativa, recuperação do único hospital e criação de uma escola de qualificação profissional a nível de segundo grau, além do atendimento aos pequenos agricultores.
Na Diocese de Diamantino Pe. Karl auxiliou o bispo Dom Henrique Fröhlich como Vigário Geral sendo-lhe concedido pela Santa Sé (Vaticano) o título de Monsenhor.
Em 1982, com a criação da Diocese Sagrado Coração de Jesus de Sinop, desmembrada da Diocese de Diamantino, o então bispo de Sinop Dom Henrique Fröhlich juntamente com o colonizador Ênio Pepino, convidaram o Pe. Karl para vir trabalhar na Diocese de Sinop, pedindo para dar atenção especial aos pequenos produtores rurais. Aceitando o convite, Pe. Karl veio para Sinop em novembro de 1984, fixando aqui raízes e cirando varias instituições, dentre elas o Hospital Santo Antonio e a Adestec – Obra Padre Pio, continuando em Sinop a auxiliar o bispo Dom Henrique na função de Vigário Geral e com a chegada do sucessor Dom Gentil Delazari foi bem acolhido e continua servindo ao bispo como Vigário Geral e Ecônomo da Diocese.
Mons. Karl aproveita este jubileu de 40 anos de Brasil para agradecer a Deus pelos dons recebidos e agradece a todos que de alguma forma o acolheram neste maravilhoso país.
João Carlos Girardi


