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A última derrota da democracia

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Nesta semana comemoramos 24 anos da histórica votação da emenda Dante de Oliveira, que deu origem ao “Diretas Já!”, o maior movimento cívico já visto neste País. A emenda não aprovada por falta de quórum, representou a última derrota da democracia, pois o levante pacífico e patriótico do povo brasileiro pelas liberdades democráticas enterraram 20 anos de ditadura militar.

Dante sempre foi um democrata convicto e defensor obstinado de seus ideais. Eleito deputado federal em 82, tomou posse na Câmara Federal em janeiro do ano seguinte, carregando no peito o sonho da liberdade, que era o sonho da ampla maioria do povo brasileiro.

Tinha apenas 32 anos quando chegou ao Congresso. Era o “deputado barbudinho” da periferia do Brasil. Um menino atrevido que ousava – em plena ditadura – coletar assinaturas para apresentar um projeto de emenda constitucional estabelecendo eleições diretas.

Começava ali, na determinação e coragem de Dante, uma revolução democrática embalada pelo sonho das ruas.

Era um tempo de medo e opressão. A ditadura militar controlava a ferro e fogo a vida política brasileira. Sob a força das baionetas, os militares impunham a censura, as torturas, os assassinatos políticos e atrocidades de toda ordem.

Dante era um homem de espírito público e ideais democráticos. Estava determinado a empreender a luta que fosse para devolver à Nação sua liberdade. E ousou desafiar a ditadura com um projeto que ninguém acreditava fosse possível.

Apesar da descrença Dante conseguiu 170 assinaturas de deputados e de 23 de senadores, número suficiente para permitir que a emenda das diretas fosse apresentada, em 2 de março de 83. A ousadia e a determinação de Dante foram inspiradoras. A emenda das diretas transformou-se em bandeira de luta contra a ditadura.

Sob essa bandeira, símbolo máximo da luta contra a ditadura, o Brasil viu consolidar as lideranças de Ulysses Guimarães, o “Senhor Diretas”, de Teotônio Vilela, o “Menestrel das Alagoas”, do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, de Mário Covas, e de outros tantos, brasileiros e brasileiras que sonhavam com o ideal democrático das eleições diretas.

O povo foi às ruas aos milhões. Clamou por liberdade, cantou a liberdade. A cada comício mais gente. Operários, estudantes, artistas, intelectuais, donas de casa, camponeses… Todos ecoavam o mesmo grito: “Diretas Já!”.

Numa sessão da Câmara Federal, que começou no dia 25 de abril de 84 e terminou na madrugada do dia 26, a emenda Dante de Oliveira obteve 298 votos a favor, 65 contra e 3 abstenções. Mas a ausência em plenário de 112 parlamentares aliados da ditadura impediu o quórum necessário à aprovação.

A derrota não esmoreceu Dante nem aqueles que lutavam ao lado do povo por democracia. A semente plantada pela emenda das diretas havia germinado. Cresceu e floresceu tal qual árvore frondosa abrigando os sonhos de liberdade do povo brasileiro. No ano seguinte, ainda no Colégio Eleitoral, o Brasil viu ser eleito Tancredo Neves, o primeiro presidente civil depois de 20 anos de trevas.

“Nós derrubamos a ditadura sem um tiro, sem uma bala, e acho que foi uma grande lição para os que viveram e para as futuras gerações. A lição de valorização da democracia”, disse Dante aos jornalistas durante as celebrações dos 20 anos da emenda das diretas.

O que me leva a escrever este artigo é o dever de reverenciar a memória deste grande homem público que foi Dante de Oliveira, mas também o dever cívico de enaltecer a história do nosso País. Uma frase do senador Pedro Simon sobre as “Diretas Já!” nos remete à responsabilidade com nosso passado, eis que é referência do nosso futuro:

– É preciso ensinar o povo a admirar seus heróis. Estimular o Brasil a amar seu povo e a conhecer seus heróis.

Dante é um herói da democracia. Merece nosso orgulho!

Thelma de Oliveira é deputada federal pelo PSDB de Mato Grosso.

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