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Operação Sonrisal

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No decorrer da semana, a mídia em geral dedicou generosos espaços para noticiar o polêmico “Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas”, anunciado pelo Governo Lula. Muito mais para detoná-lo do que para destacá-lo como uma ação administrativa séria, vale dizer. Nem por isso, alguns políticos de Mato Grosso contiveram o deslumbre durante festivo lançamento do “tapa-buracos”, na segunda-feira passada, num trecho da BR-070, perto da cidade de Campo Verde, no Sul do Estado.

Pelas declarações dos deputados Wellinton Fagundes (PL), Vera Araújo (PT) e Sérgio Ricardo (PPS) a respeito dessas obras, os menos avisados são levados a acreditar que o Governo petista mostra serviço. E, ao contrário do que o País inteiro fala, passaria bem longe da crise institucional que conduz o Executivo e o Legislativo para o pântano dos escândalos, das mentiras e da roubalheira.

“Não é uma obra eleitoreira”, afirmou o deputado do PL. “Trata-se de um trabalho excelente”, disse o parlamentar do PPS, do alto dos seus “notórios conhecimentos” de engenharia, embora ainda esquente os bancos de uma faculdade de Direito – no que foi apoiado pela colega do PT. Esse tipo de oba-oba é próprio de campanha eleitoral. Infelizmente, há políticos que não medem os parâmetros da enganação, apesar dos riscos de se exporem ao ridículo de uma ação como essa da operação tapa-buracos.

No domingo que passou, a “Folha de S. Paulo” publicou uma reportagem especial que resume a ação improvisada e eleitoreira do Governo. “A falta de planejamento estatal para a manutenção das estradas brasileiras é a causa pelo ‘desperdício’ de R$ 440 milhões que o Governo Federal gastará com a operação tapa-buracos”, afirmou o jornal paulista, com base na avaliação de especialistas.

Da reportagem, destacam-se algumas conclusões: 1. Com toda essa dinheirama, seria possível fazer muito mais manutenção, desde que ela fosse feita antes de o buraco aparecer; 2. O correto seria fazer um projeto de engenharia que fizesse medições do estado do pavimento, da profundidade dos buracos e da qualidade do asfalto e da base e, com isso, decidir o que precisa ser feito; 3. Algumas rodovias precisam ser refeitas por inteiro. Não adianta tapar buracos se há fissuras que indicam que o pavimento já está condenado; 4. Medida emergencial é reconstruir ponte que caiu; 5. Emergência não se determina por decreto, mas por episódios localizados; 6. Não há mão-de-obra qualificada para tocar essas obras no ritmo exigido pelo Governo Federal.

É claro que esses detalhes técnicos não despertam a atenção dos políticos governistas ou daqueles que, ávidos por apoio político e em fazer média com o eleitorado, não hesitam em manifestar de público a bajulação explícita. Sequer devem ter lido a matéria.

No caso dos deputados mato-grossenses que participaram do lançamento das obras na BR-070, parece que o importante mesmo foi marcar presença, não apenas no “ato solene” de início do tapa-buracos, mas, principalmente, no banquete oferecido pela Prefeitura de Campo Verde. Com direito a palanque e claques. Perto das eleições, esse pessoal voltará aos trechos para “fiscalizar” as tais obras. E montar novos palanques.

No espaço diário, na página de Opinião do “Jornal do Brasil”, o experiente jornalista Villas-Boas Côrrea sintetiza o que a maioria dos brasileiros pensa das obras emergenciais de Lula: “(…) Se oba-oba é a tática de campanha, a tolerância com a mentira necessita de parâmetros para não se expor ao ridículo da operação tapa-buracos na rede rodoviária, relegada ao abandono e à degradação em três anos de mandato. O corre-corre aflito para tamponar o rombo nos votos é um show de improvisação, denunciado pelo coro de críticas ao desperdício do dinheiro público, pois, em época de chuvas, o piche atirado na buraqueira não resistirá a meses de tráfego intenso”.

Só mesmo quem tem interesse eleitoreiro festeja a Operação Sonrisal do Governo Lula. E aqui em Mato Grosso, como se vê, há muita gente deslumbrada com a tapeação petista.

Antonio de Soua é jornalista, é consultor de Comunicação da Oficina do Texto, em Cuiabá.

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