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Falando de suicídio

Juacy da Silva
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Estamos em pleno SETEMBRO AMARELO, mês dedicado internacionalmente `a valorização da vida e a PREVENÇÃO AO SUICÍDIO, um tema que angustia milhões de pessoas e famílias ao redor do mundo, mas mesmo assim ainda é considerado um tabu, ou seja, um assunto quase proibido de falar, conversar e discutir.

O dia 10 de setembro é considerado o DIA MUNDIAL DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO. Este dia foi criado em 2003 pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e pela Organização Mundial de Saúde, com o objetivo de prevenir o ato do suicídio, através da adoção de estratégias pelos países.

Todos os anos morrem em torno um milhão de pessoas por suicídio no mundo e ocorrem entre 10 a 20 milhões de tentativas de suicídio por ano. Para cada pessoa que comete suicídio, outras vinte tentam o mesmo caminho. A Organização Mundial de Saúde estima que o suicídio é a 13ª causa de mortalidade no mundo, sendo uma das principais entre adolescentes e adultos até aos 35 anos. A taxa de suicídio é maior nos homens do que nas mulheres.

De acordo com a OMS – Organização Mundial da Saúde, diversas outras organizações internacionais e praticamente centenas ou milhares de outras instituições governamentais e não governamentais, em todos os países promovem campanhas de alerta e discussão sobre este assunto.

Ainda segundo a OMS suicídio é considerado um problema sério de saúde publica e não deve ser negligenciado por nenhum governo e deve ser assunto de interesse permanente tanto por organizações governamentais ligadas `a saúde publica quanto as diversas organizações da sociedade civil, incluindo ONGs, Igrejas e Movimentos sociais.

O primeiro estudo sistemático sobre o suicídio foi publicado em 1897, pelo sociólogo francês Emile Durkheim, considerado um dos clássicos da sociologia. Segundo Durkheim, o suicídio deve ser considerado um fato social, ou seja, transcende ao caráter individual ou familiar e como tal deve ser analisado.

Este foi o primeiro estudo conduzido de forma sistemática, com abordagem científica e metodologia das ciências socias. Segundo o autor existem três tipos de suicídio: o egoísta, o altruísta e o anômico. As taxas de suicídio variam de acordo com diversas categorias sociais como cultura, religião, sexo, faixa etária, nível sócio-econômico, estilo de vida.

Só bem mais recente é que outras disciplinas como antropologia, psicologia e psiquiatria, teologia e outras mais aportaram suas contribuições para a análise multidisciplinar e integrada deste fato que tanto choca e preocupa as pessoas e as sociedades.

Ultimamente existe a tendência de destacar a importância dos fatores psicológicos e psiquiátricos tanto em relação ao suicídio quanto nas tentativas de suicídio, razão pela qual vincula-se o suicídio no contexto da saúde mental, como a própria OMS vem considerando, destacando-se a depressão como um dos “gatilhos” nessa forma de comportamento.

Em maio de 2013, quando da 66a. Assembleia Mundial de Saúde da ONU/OMS, foi aprovado o primeiro Plano de Ação de Saúde Mental e a prevenção do suicídio passou a fazer parte deste plano, cujo horizonte temporal é de 2013 até 2020, tendo como meta mundial a redução até o final do plano de 10% do numero de suicídios no mundo.

Tendo em vista a precariedade dos dados estatísticos de um grande número de países, pesquisadores e estudiosos deste fenômeno, acreditam que o numero real tanto de suicídios quanto de tentativas de suicídios possam muito maiores do que os dados oficiais indicam.

As taxas de suicídio variam de acordo com as diversas regiões. A taxa média mundial em 2012, conforme relatório da OMS de 2018 é de 10,6 por cem mil habitantes, variando de 7,4 na África; a 15,5 na Europa; 15,6 na Oceania, 13,3 na Ásia e 9,8 nas Américas. Tendo em vista a distribuição da populacao mundial, na Ásia estão concentrados o maior número tanto de suicídios quanto de tentativas de suicídios, com destaque para a Índia e China que lideram esses números, respectivamente, 215,8 mil  e 133,8 mil.

Tanto a taxa quanto o número de suicídios e tentativas de suicídios no Brasil, são considerados relativamente baixos, respectivamente, taxa de 6,5 por cem mil habitantes e 13,7 mil suicídios por ano, tendo como base o ano de 2012 e projetados para o tamanho da população brasileira em 2018, mas mesmo assim é uma realidade muito preocupante.

O suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos e as taxas variam conforme as diferentes faixas etárias, conforme pode-se ver pelos dados do Ministério da Saúde, em seu primeiro Boletim Epidemiológico de tentativas e óbitos por suicídio, relativo ao período de 2011 a 2015.

Essas taxas aumentam de acordo com as faixas etárias: de 05 a 19 anos, taxa de 1,7; 20 a 29 anos, taxa de 6,8; 30 a 39 anos, taxa de 7,4; de 40 a 49 anos, taxa de 7,9; 50 a 59 anos, taxa de 8,0; 60 a 69 anos, taxa de 8,7 e, na faixa de 70 anos e mais, taxa de 8,9 anos.

Esses dados demonstram que em se tratando de prevenção, deveria haver uma preocupação com relação a este problema em todas as faixas etárias, inclusive em relação à população idosa, onde a incidência de suicídio e de tentativas de suicídio é a mais elevada, em termos de taxas.

O que preocupa as pessoas e organizações envolvidas neste luta é que a saúde pública no Brasil é este caos que bem sabemos, mas que a área de saúde mental está muito aquém tanto das necessidades quanto da gravidade dos transtornos mentais presentes em nossa sociedade, muito, mas muitas vezes maior do que a gente pensa. Quem dispõe de recursos próprios ou de planos de saúde pode encarar este desafio, cujo custo é bastante elevado; mas quem depende única e exclusivamente do SUS fica relegado, sem tratamento ou com medidas protelatórias e paliativas.

Prevenção não se faz apenas com boas intenções e discursos, mas sim com planejamento, definição do problema de forma bem elaborada, estabelecimento de metas a serem atingidas em um determinado período, definição e montante de recursos, ações a serem executadas e indicadores de acompanhamento para o que foi planejado.

Confrontando a realidade da saúde pública, principalmente da saúde mental no Brasil, os recursos, os planos, programas, projetos e ações voltadas a esta área, fica difícil acreditar na “seriedade” de nossos governantes e aí temos pouca coisa a comemorar neste SETEMBRO AMARELO e neste DIA MUNDIAL DA PREVENÇÃO AO SUICÍDIO.

Vamos refletir de forma mais profunda e de maneira mais crítica sobre esta realidade, esta seria a melhor forma de “comemorarmos” essas datas do calendário mundial e nacional. Suicídio também e uma ou talvez a mais terrivel forma de violência, quanto uma pessoa se confronta com os cinco “D” do suicídio: Desesperança; Desamparo; Desânimo; Desinformação e Desrespeito.

Será que os candidatos que concorrem a cargos eletivos nessas próximas eleições já pensaram sobre esta questão e tem propostas para esta área da saúde publica.

Seria bom que os eleitores/eleitoras perguntassem a eles, os futuros donos do poder e a seus asseclas!

Juacy da Silva , professor universitário Titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de diversos veiculos de comunicação.

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