PUBLICIDADE

Cuiabá: abrigo será construído para jovens não adotados até à maioridade

PUBLICIDADE

A falta de uma casa transitória para abrigar adolescentes institucionalizados que chegam à maioridade foi o principal assunto abordado durante a audiência pública intitulada Comemorando a Adoção e Analisando as suas Emergências. O encontro entre parlamentares, entes do Poder Judiciário, da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja), do Ministério Público, da Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) e sociedade civil ocorreu, ontem à noite, em Cuibá.

A reunião fez parte da programação da Semana Estadual da Adoção. Os deputados estaduais Wagner Ramos (PR), Valdizete Nogueira (PSD) e Washington José Salles (PTB) prontamente cederam R$ 50 mil cada das emendas individuais, totalizando R$ 150 mil. Se comprometeram ainda em fazer um requerimento para inserção da construção da casa no próximo orçamento.

A sessão foi presidida pelo deputado estadual Wagner Ramos (PR) e teve início com fala da presidente da Ampara, Lindacir Rocha, que destacou a carência do Estado em ofertar um ambiente próprio para os jovens que completam 18 anos nos abrigos. Ela chegou a se emocionar ao relatar o caso de um menino que era exemplo dentro do lar que vivia e com 15 dias nas ruas, após a maioridade, foi assassinado por traficantes.

Lindacir lembrou que esses adolescentes deixam os abrigos totalmente despreparados tanto profissionalmente quanto para o convívio social. Enquanto estão institucionalizados, as crianças e adolescentes seguem as regras das casas em que vivem, não administram dinheiro e não tem contato com o mundo externo, da forma como a maioria dos jovens tem. "Eles não saem, não vão ao shopping, não passeiam. Completar 18 anos é o sonho de todo adolescente, como se num passe de mágica fosse ganhar a tão sonhada liberdade. Isso é o pensamento de todos os jovens, mas para os institucionalizados, esse sonho vem com o medo de mais uma ruptura. Vai ter que sair da casa e não tem para onde ir".

A presidente propôs a criação de um espaço semelhante a uma república, onde os jovens teriam a responsabilidade de administrar os afazeres e mesmo a economia. "Morariam sozinhos, mas seriam monitorados e acompanhados para aprenderem a socializar".

A secretária-geral da Ceja, Elaine Zorgetti Pereira, afirmou que o Poder Público não dispõe de nenhum mecanismo de amparo para esses adolescentes que são colocados nas ruas. "Quem toma alguma medida é a sociedade, que se sensibiliza e tenta ajudar, que enfrenta os desafios. Muitos fazem o apadrinhamento, que salva esses jovens das ruas, das drogas e até mesmo de serem mortos, como já aconteceu".

A oferta de cursos e emprego não é suficiente para garantir a dignidade desses jovens, apontou Elaine. "Só isso não basta, o salário é baixo e eles ficam perdidos mesmo quando saem empregados. Não contam com nenhuma estrutura e o dinheiro é insuficiente para se manter. A maioria não sabe nem mexer com dinheiro".

Na avaliação da juíza auxiliar da Corregedoria e coordenadora das Varas da Infância e Juventude, Helena Maria Bezerra Barros, a necessidade de fazer uma audiência pública para construir uma estrutura "é sinal que o poder público anda mal". "O Estado faz seu papel no atendimento de crianças com até 12 anos, mas a partir daí não oferta mais nada. O que existe são Organizações Não Governamentais (ONGs) e pessoas bem intencionadas que assumem o papel".

Todos os medos e desafios a serem enfrentados pelos institucionalizados são realidade na vida de Emerson Antônio da Silva de Moraes, 18, que viveu em abrigos desde os nove anos de idade e sempre pensou como seria a vida quando chegasse à maioridade. "Sempre vi os colegas indo embora e pensava o que seria de mim, do meu futuro. Sabia que não existia nenhum apoio, onde morar, onde ficar".

O apadrinhamento aos 16 anos mudou a vida de Emerson. Ao ser inserido no programa da Ceja, o jovem ganhou uma madrinha, que o abrigou ao sair do lar. Hoje, o rapaz cursa o primeiro semestre do curso de Administração, trabalha e sonha com o futuro. "Eu queria trabalhar e me manter, mas precisava de apoio".

Emerson saiu de casa aos 9 anos, vítima de maus tratos provocados pelo padrasto. Passou três dias nas ruas e foi encaminhado pelo Conselho Tutelar a um abrigo. "Eu não queria ter aquela vida e sabia que se continuasse ali não desenvolveria, não iria progredir. O sonho de todos que estão no abrigo é ganhar uma família, mas isso não acontece para todos".

Quanto ao futuro, o estudante planeja terminar o curso universitário e trabalhar na área. Adotar uma criança também está entre os anseios, especialmente por entender a necessidade e o bem que a atitude representa para a vida de quem está em um abrigo.

Também participaram da audiência juíza da Primeira Vara Especializada da Infância e Juventude da Comarca de Cuiabá, Gleide Bispo Santos, promotora de Justiça da Infância e Adolescência Sazenasy Daunfenbach, entre outros representantes da sociedade civil.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias
Relacionadas

Tribunal reduz 11 anos de pena de condenado por duplo homicídio no Nortão

A Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de...

Executores de homicídio motivado por seguro de vida são condenados em MT

Dois executores do assassinato de Paulo Sander Alves foram...

Prazo para contestar descontos indevidos do INSS ​termina dia 14

Aposentados e pensionistas que tiveram descontos indevidos diretamente nos...
PUBLICIDADE