O setor madeireiro segue como um dos pilares da economia de Sinop e de diversos municípios do Nortão, apesar de enfrentar cenário marcado por instabilidade e desafios regulatórios. A avaliação foi feita pelo presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Norte de Mato Grosso (Sindusmad), Felipe Antoniolli, em entrevista na sede do Só Notícias, ontem, ao analisar o desempenho e as perspectivas do segmento.
Segundo ele, este ano foi de muitas dificuldades para as empresas do setor. “Eu acredito que foi um ano bem instável, não foi de grandes proporções. É um ano que teve uma grande insegurança jurídica, uma insegurança também governamental, o que impediu das empresas avançarem de forma em ofertar recursos. Os desafios do Sindusmad e do setor são diários – desafios ambientais, trabalhistas, tributários. Nós tivemos algumas regulamentações que a gente teve que se adaptar também”, afirmou. Ele acrescentou que “a gente teve que fazer um novo regramento ambiental. Os engenheiros passaram a adotar essa nova normativa ambiental, o que travou praticamente o sistema durante oito meses, mais ou menos de outubro até maio de 2025, ficou sem fazer novos manejos florestais. E depois, de maio em diante, foram liberados alguns manejos florestais”, além de destacar que “o que afetou bastante aqui na nossa região foi a questão do cumaru e do champanhe, que era muito exportado. A gente teve que aumentar o diâmetro. Consequentemente, tem menos volumetria por hectare para ser explorado”.
O Sindusmad, de acordo com Felipe, tem concentrado esforços na orientação dos associados quanto à adoção de práticas sustentáveis. O foco principal é reforçar que o manejo florestal sustentável é o caminho para conciliar atividade econômica, preservação ambiental e benefícios sociais. Ele explica que essa é a única atividade permitida ao produtor rural dentro da reserva legal capaz de gerar emprego, renda e justiça social, mantendo a floresta em pé.
Para o dirigente, ainda existe preconceito e desinformação por parte da sociedade em relação à atividade madeireira. Ele avalia que o grande desafio do sindicato é mudar essa percepção. “Pensando na questão macro, esse é o nosso grande trabalho, é o nosso grande desafio, é tentar mudar a convicção das pessoas realmente. Fazer com que elas enxerguem que o madeireiro está fazendo um bem para a natureza, um bem para a sociedade, através do trabalho com o manejo florestal sustentável. A gente quer mostrar para as pessoas que veem um caminhão de tora que aquelas toras são oriundas de um manejo florestal sustentável, que tem legalidade, que tem rastreabilidade. Aqui no Mato Grosso não tem nenhuma concessão florestal, são todas em áreas privadas”. Ele reforça ainda que “hoje eu posso garantir para você que é praticamente impossível de acabar com as florestas, porque nós temos um manejo florestal sustentável. Se não tivesse com certeza ia acabar as florestas, é a minha interpretação. A gente tem que mostrar para a sociedade, que a gente só faz manejo na área de reserva legal de uma propriedade, onde 80% da área do produtor pode ser feito manejo florestal sustentável e 20% só que você pode fazer a supressão vegetal”.
Sobre a relação institucional, o presidente avalia que há um entendimento crescente por parte dos governos. “Eu acho que o próprio governo, tanto Estadual como Federal, já identificou que a única maneira dele combater o desmate ilegal é realmente com manejo florestal sustentável. Tanto é que a gente vê várias concessões florestais nos outros estados, no Pará, no Acre, no Rondônia, que é para fomentar aquela região, aquela localidade. E somente com o manejo florestal sustentável que a gente vai acabar com esse paradigma, mostrar, mudar a convicção das pessoas e combater o desmate ilegal”, disse.
Mesmo com a diversificação econômica do município, ele crê que Sinop segue como referência no setor madeireiro. “Sinop, na verdade, ainda é muito forte na madeira. Sinop é a cidade da madeira, porque é a cidade que mais paga Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) de madeira ainda no Estado do Mato Grosso. Então, o grande polo industrial madeireiro é Sinop. É claro que antigamente Sinop era só o setor da madeira. Hoje tem vários outros setores que movem a economia, mas ainda Sinop tem mais de 100 indústrias madeireiras que movimentam a economia, que geram emprego, que levam a dignidade para as pessoas”, destacou.
O presidente também ressaltou que a conciliação entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental já ocorre na prática, especialmente com o avanço do aproveitamento de resíduos. “Em Sinop, hoje, está em ascensão a questão da biomassa, do cavaco, que vem sendo um marco divisório na questão do setor de base florestal. Antigamente, a indústria madeireira tinha a questão do material lenhoso, o que sobrava era lenha. Hoje, não sobra mais nada na indústria madeireira. É extremamente organizada e limpa, porque todo o resíduo gerado, a lenha, o pó de serra, ele é transformado em cavaco, que é a biomassa, destinada para as usinas de etanol, para os armazéns. A vinda também dessas usinas deu a destinação correta para os nossos resíduos”, avaliou.
Atualmente, o Sindusmad conta com 192 associados em 29 municípios do Norte de Mato Grosso em sua base territorial.
Receba em seu WhatsApp informações publicadas em Só Notícias. Clique aqui.


