A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) está desenvolvendo um projeto inovador para a construção do novo campus em Várzea Grande. O professor e arquiteto José Afonso Portocarrero é o responsável por um planejamento arquitetônico que propõe a criação de um espaço sustentável. O terreno fica na região da Passagem da Conceição, onde a instituição oferecerá, inicialmente, cinco cursos: Engenharia de Transporte, Engenharia de Minas, Engenharia da Computação, Engenharia de Automação e Controle e Engenharia Química. A verba para concretizar o projeto é de R$ 48 milhões.
Caso a proposta saia do papel, o prédio, que adota o sistema pilotis (edificação sustentada por pilares ou colunas), não vai precisar de ar-condicionado nas salas, a iluminação será natural e a água, reutilizável. Um ambiente ecologicamente correto. "O prédio pode custar mais na construção, mas vai representar economia depois de pronto", explica o professor. Ele aponta que a universidade gasta em torno de R$ 800 mil mensais em energia em seus quatro campi.
O projeto arquitetônico prevê construção de um anel (círculo) que ocuparia 12 mil m². São 100 salas genéricas, a serem distribuídas aos cursos de engenharia e tecnologia. A prefeitura, quadras esportivas, piscinas, teatros seriam satélites, ou seja, ficariam na parte de fora do anel. À medida que novos cursos forem criados, outros anéis serão erguidos. O terreno tem 800 mil m² e é grande o bastante para agregar vários modelos como esse, diz o autor do projeto.
A estrutura da laje também será aproveitada com a implantação de um telhado verde. Esse tipo de construção já foi tema de reportagem da Revista Fapemat Ciência (leia aqui) e traz diversas vantagens para as edificações. A cobertura verde seria a principal responsável pelo clima ameno nas salas, que, salvo exceções, não vão precisar de ar-condicionado.
Irão se aliar ao telhado verde para deixar o clima fresco, janelas grandes nas duas laterais do edifício. Elas permitirão ventilação cruzada e arejamento natural do ambiente. Concomitantemente, dutos serão implantados vindos do subsolo para ajudar a climatizar as salas. O professor explica que, num nível de 3 metros abaixo da terra, a temperatura se mantém quase constante, em aproximadamente 20°C. Os condutores vão insuflar o ar e levá-lo à superfície por meio de exaustores eólicos a serem instalados na cobertura. O duto, construído debaixo do edifício, teria cerca de dois metros de diâmetro. "A laje também vai ter beiral, que sombreia o prédio e reduz a temperatura", explica.
Portocarrero conta que o terraço poderá ser um local de lazer para visitantes e de pesquisa para professores. Estes poderão fazer medições, observação de estrelas, além de experimentos que precisem da exposição ao sol, em lugares reservados na laje.
As ideias foram expostas em um evento que discutiu a implantação da nova unidade acadêmica (leia mais aqui). O encontro aconteceu no auditório da Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia (FAET) da UFMT e contou com a participação de servidores dos quatro campi e representantes da sociedade civil.
No centro do anel, vai permanecer a paisagem natural do cerrado. Na região prevalece a árvore da espécie conhecida como lixeira. A informação é da professora da UFMT e engenheira sanitarista Eliana Rondon. Ela também lançou ideias para a reutilização da água, inclusive as águas cinzas, popularmente chamadas de esgoto. Depois de tratadas, elas poderiam ser usadas na criação de peixes e irrigação de viveiros.
Todas essas ideias, no entanto, podem sofrer inúmeras alterações. Isso porque os debates estão só começando. Nos próximos meses os projetos, arquitetônico e pedagógico, vão receber contribuição de toda a comunidade. Os grupos de trabalho são abertos e os professores disponíveis a ouvir sugestões.


