O governo brasileiro formalizou hoje um acordo com a China para avançar no projeto da ferrovia bioceânica que ligará o litoral do Peru ao Brasil, passando por Mato Grosso e outros estados como Acre e Rondônia. O entendimento foi oficializado por meio de um memorando de cooperação entre a estatal brasileira Infra S.A., vinculada ao Ministério dos Transportes, e o China Railway Economic and Planning Research Institute, que coordenará os estudos do lado chinês.
De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, que antecipou a assinatura do acordo, a Infra S.A. ficará responsável pela articulação institucional, coleta de dados, apoio técnico e estudos ambientais do projeto em território brasileiro. O plano, que integra a agenda diplomática entre os dois países desde abril, é considerado uma das principais iniciativas de infraestrutura logística em desenvolvimento na América do Sul.
O traçado da ferrovia partirá do porto de Chancay, no litoral peruano — megacomplexo portuário construído pela estatal chinesa Cosco Shipping — e atravessará os Andes até chegar ao Acre. A partir daí, seguirá por Rondônia e alcançará o estado de Mato Grosso, um dos maiores polos de produção de grãos do mundo.
Segundo o secretário nacional de transporte ferroviário, Leonardo Ribeiro, o projeto vai aproveitar trechos da Fico (Ferrovia de Integração Centro-Oeste), já em construção. “Do nosso lado, já avançamos bastante com a Fico e a Fiol. Essa parceria ajuda a destravar o lado peruano”, afirmou o secretário à Folha.
Conforme a publicação, a Fico será conectada à Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), formando um corredor ferroviário que terminará no porto de Ilhéus, na Bahia. No total, o sistema terá cerca de 4.500 km de extensão e permitirá o escoamento de commodities brasileiras para o Pacífico — com potencial de reduzir em até dez dias o tempo de transporte de cargas até a Ásia.
Ribeiro também destacou o interesse chinês em ampliar sua atuação em projetos de infraestrutura no Brasil. “Esse acordo abre portas para que a China passe, efetivamente, a participar dos projetos brasileiros. No fim do dia, esse trabalho vai dar ainda mais segurança para atração de novos investimentos”, declarou.
Ainda segundo a Folha, técnicos chineses realizaram visitas de campo em maio a obras como a Fico e a Fiol, além do porto de Santos. A delegação analisou o potencial de integração logística das ferrovias e sua conexão com áreas produtivas estratégicas do país, em especial em Mato Grosso.
“Essa ligação bioceânica é um grande sonho do Brasil. Essa ferrovia chegando ao Pacífico vai reduzir o tempo em cerca de 10 dias para os navios que se dirigem da costa brasileira à Ásia para entregar os produtos brasileiros”, disse Marcus Cavalcanti, secretário Especial do Programa de Parcerias de Investimentos da Casa Civil, durante a visita.
A Fico-Fiol compreende a concessão à iniciativa privada das ferrovias Integração Centro-Oeste (Fico) e Fiol. Prioritário no Novo PAC, o projeto prevê 2,7 mil quilômetros de extensão entre Bahia, Goiás e Mato Grosso, com investimentos estimados em R$28,7 bilhões. As estradas de ferro do projeto serão interligadas à Ferrovia Norte-Sul, fortalecendo a implantação de um corredor logístico estratégico.
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