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Justiça e liberdade

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Alexandre Garcia

Meu netinho de quatro anos veio visitar-me neste carnaval e a primeira pergunta foi se Brasília tem Estátua da Liberdade. Respondi que sim; que iria lhe mostrar, na Praça dos Três Poderes. Pensei na estátua de Têmis, a deusa da Justiça, diante do Supremo. Mas depois desisti. Lembrei de Débora, a cabeleireira, há dois anos presa, a despeito de ter dois filhos menores, por escrever com batom lavável “perdeu, mané”, na base da estátua. Poderia essa justiça representar também a Liberdade? Também veio à memória o Clezão, que não teve a quem recorrer e foi chamado pelo Altíssimo, e tanta outra gente que não destruiu, não quebrou, não rasgou, não sujou, e foi condenada embora tenha apenas se manifestado, como garante a Constituição. Resolvi não mostrar a estátua a meu neto, para não causar confusão na cabeça dele. Mais alguns anos e ele poderá conhecer o registro histórico do que aconteceu no Brasil nesses tempos tão estranhos.

Enquanto isso, saúdo, como todos os brasileiros, a primeira vitória do cinema nacional no Oscar com o melhor filme estrangeiro para Ainda Estou Aqui, que retrata um episódio desencadeado em janeiro de 1971, de arbítrio, perseguição, autoritarismo. Exato meio século depois, o mecanismo de arbítrio, autoritarismo, perseguição, voltou e ainda está aqui. O filme aumenta a indignação da cidadania, percebendo que o acontecido no passado não serviu para evitar repetir erros históricos. Os constituintes de 1988 cuidaram de blindar, pela Constituição, os direitos e garantias fundamentais, com livre manifestação do pensamento, direito de ir e vir, liberdade de reunião, vedação à censura, amplo direito de defesa, juiz natural, banimento de tribunal de exceção – enfim, para que nunca mais o brasileiro fosse submetido a perseguições, sem que ficasse claro o crime que tenha cometido. 

Vivemos de novo aqueles tempos do filme e se olharmos para a estátua de Têmis, certamente indagaríamos sobre a isenção do fiel da balança entre acusação e defesa. Uma Têmis que é deusa de um tribunal de justiça, não de um tribunal político, como apregoam alguns de seus integrantes. Um deles chegou a expressar que o atual Presidente da República deve muito ao Tribunal. Tempos estranhos. Aplaudimos o filme que retrata um drama de 54 anos atrás; denunciamos um cisco no olho do passado, e fingimos não perceber uma trave diante dos nossos olhos – lembrando o Evangelho desse domingo. 

Com o mesmo orgulho dos brasileiros, o presidente Lula aplaudiu o filme e não aproveitou a oportunidade para lamentar as semelhanças com o presente. Afinal, ele jurou defender a Constituição. Entende-se, ele está com sérios problemas de desaprovação crescente, por causa da alta dos preços e dos juros, provocada pelo desequilíbrio das contas públicas. Mas entra num círculo vicioso: em vez de cortar gastos, faz despesas populistas, como aumento do auxílio-gás, compra de aprovação na escola, chamada de pé-de-meia, ampliação de meio circulante, com crédito consignado que estimula o endividamento, entre outros. Crente de que tudo se resolve com política, chamou a deputada Presidente de seu partido para compor sua linha de frente, agora formada por Janja, Gleisi, Sidônio, Rui Costa e Lula. Fico imaginando se José Dirceu acha que vai dar certo.  

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