O Pronto Socorro Municipal de Várzea Grande (PS/VG) corre risco de paralisar serviços devido à falta de insumos, remédios e a greve dos médicos que atinge 3 meses sem nenhum tipo de negociação. Os usuários são obrigados a desembolsarem o tratamento, enfrentam problema de desabastecimento de água nos banheiros e fila de espera por cirurgia que chega a 50 pessoas na área de ortopedia. A direção da unidade afirma que com a interrupção dos repasses do governo estadual, a dívida chega a R$ 4,6 milhões e tem provocado uma situação insustentável junto aos fornecedores.
Desde o dia 12 de abril Verônica Machado da Silva, 60, está internada no PS/VG sem perspectiva de como retomará a vida após o acidente vascular cerebral e as consequências que lhe causaram no corpo. A urgência pela cirurgia cardiovascular foi recomendada no dia 10 de agosto por uma médica do Hospital Geral Universitário (HGU). Mas, até o momento, está sem posicionamento sobre o procedimento. Longe da rotina de casa, localizada no Mapim, Verônica afirma já ter pedido para o médico lhe dar alta, o que foi negado por risco de novo derrame.
O desespero pelo retorno a casa levou à fuga Manoel Dias de Jesus, 79, na segunda-feira (10). Em um momento sem acompanhamento da filha Roseli Figueiredo ele saiu da unidade, entrou em um ônibus e chegou em casa assustando a família. Manoel chora ao relatar os mais de 3 meses limitado a um leito da enfermaria e ao uso de um banheiro com vaso sanitário sem descarga. O retorno de Manoel ao hospital não foi percebido para preocupação de Roseli, que procura na Defensoria Pública uma forma de garantir a angioplastia ao pai. “Eu quero dignidade, meu pai já lutou muito. Por que ele não tem direito?”.
Glória Silva Ferreira, 63, reclama do atraso no serviço de almoço e da falta de remédios. Reivindicando melhorias na área da saúde, ela apresenta a indignação que todos os pacientes apresentam nos corredores e salas de um dos hospitais referência à população de Mato Grosso.
Médicos e técnicos de enfermagem tentam desenvolver o trabalho com o insumo que conseguem racionar e reservar em “estoques” próprios. Uma servidora, que prefere não se identificar, guarda um tipo de pomada utilizada para fazer curativos em alguns pacientes. Sabendo dos procedimentos corretos a serem feitos durante os atendimentos, ela relata a agonia ao deixar de cumprir com os princípios da profissão. “É horrível para o paciente, porque você vê que agrava”.
Faltam gases, antibióticos e até soro no estoque. A disposição de apenas seringa de 5 ml limita a aplicação de determinados remédios. Um médico conta sobre os riscos de infecção com procedimentos realizados precariamente pela falta de insumos.