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O poder do discurso persuasivo: da Grécia antiga ao mundo digital

Fernando Wosgrau é administrador, mestre em Agronegócios e ex-conselheiro de Educação de Mato Grosso (CEE/MT)
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Era uma noite quente e abafada. A plateia estava agitada, com os olhos brilhando de expectativa. Afinal, não é todo dia que se tem a chance de ouvir um dos mais renomados oradores, o mestre da persuasão, o pregador do sucesso. Quando o palestrante foi anunciado, o ambiente foi tomado por gritos e palmas empolgadas. “Boa noite, campeões!” iniciou ele, com uma voz vigorosa. “Hoje, vamos desvendar os segredos do sucesso absoluto, transformar sonhos em realidade!”.

A multidão aplaudiu fervorosamente. Ele era um verdadeiro maestro das palavras, um alquimista verbal. Usava termos cuidadosamente escolhidos, aqueles que hipnotizavam até os ouvidos mais endurecidos: “desvendar os mistérios do universo”, “encontrar nosso destino”, “ter uma vida próspera”.

Essa retórica e esses truques de linguagem são semelhantes aos que ouvimos nos dias atuais; entretanto, surpreendentemente, a descrição se refere a um evento ocorrido na antiga Atenas, no século V a.C. O palestrante era um sofista, filósofo itinerante que difundia seus conhecimentos em troca de dinheiro.

Com sua habilidade em manipular palavras e ideias, os sofistas não demoraram a atrair tanto seguidores devotos quanto críticos ferrenhos. Platão e Aristóteles os criticavam severamente, acusando-os de relativismo moral e de distorcerem a verdade em benefício próprio. Para eles, os sofistas eram mercadores de ilusões, exploradores da ignorância alheia.

Por outro lado, muitos filósofos contemporâneos valorizam o legado dos sofistas em relação à oratória, ao poder das palavras e à arte da argumentação, além de seu papel no desenvolvimento da dialética. Hoje, essas técnicas são amplamente utilizadas, principalmente por coaches e mentores que atuam em diversas áreas, como empreendedorismo, vendas, direito, espiritualidade e estilo de vida.

No contexto de um mundo digital em que muitos se intitulam especialistas e afirmam ter criado métodos revolucionários e inéditos, somos levados a refletir se esses profissionais estão realmente oferecendo sabedoria genuína ou apenas nos seduzindo com palavras fantásticas e promessas grandiosas.

Para quem busca entender melhor o poder da comunicação e se precaver dessas “armadilhas”, não tenho um livro de autoajuda nem um vídeo no YouTube para indicar, mas recomendo muito a leitura da obra “A arte de ter razão”, de Arthur Schopenhauer, que é um guia valioso para navegar neste mar de informações e opiniões contraditórias.

O filósofo alemão desvenda as estratégias utilizadas por aqueles que desejam persuadir e manipular, expondo as falácias e truques retóricos que permeiam conversas e debates. Ao compreender essas táticas, podemos desenvolver um olhar mais crítico e fazer escolhas mais conscientes, evitando tanto as receitas prontas quanto a manipulação da realidade.

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