quinta-feira, 25/abril/2024
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De tratado

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Nortão, 1980. Pé firme no freio. A Chevrolet C-14 para. O motorista engata a primeira marcha puxando a alavanca pra baixo. Lentamente a camionete cruza a pequena ponte de madeira sobre o rio Azul, mas o faz engasgando. Aos trancos chega à vila de Santa Carmem. O remédio é procurar um mecânico. Um mecânico, não; o único do lugar, o jovem paranaense Aarão Avelino Pereira. O cliente era ninguém menos que Ênio Pipino, o dono da colonizadora Sinop.

Tímido, Aarão recebe Ênio Pipino e faz o diagnóstico mecânico. “É o platinado, seo Ênio. Mas, vou dar um jeito”. Num piscar de olhos a peça é lixada e o veículo está pronto. A oficina funcionava debaixo da copa de uma árvore, à base do improviso. O cliente pergunta a Aarão se ele não tinha um lote para se instalar. “Quem sou eu, seo Ênio!”, Aarão admite sua fraqueza.

Sem muita conversa Ênio Pipino doou ao mecânico um lote na avenida principal e sua oficina ali funcionou até 2015, quando baixou as portas, pois o mecânico perdeu parte da capacidade motora ao ser afetado por uma neuropatia, que o deixa preso a uma cadeira de rodas.

No sábado, 19 deste mês, estive com Aarão em sua casa, na fazendinha de sua família, ao lado de Santa Carmem. Na véspera ele completara 60 anos. Foi a segunda vez em que o vi. A primeira aconteceu em 1999, quando levantava material para uma série sobre os 500 anos do Brasil. A doença não o abateu e seu sonho é vencê-la e fazer aquilo que sempre fez e mais gosta: trabalhar na oficina.

Aarão é um dos personagens do meu livro “Nortão BR-163 – 46 anos depois”, que amanhã irá para a editora. O colonizador Ênio Pipino e muitas outras figuras estão nas páginas da obra que mostra uma das regiões importantes para a política de segurança alimentar mundial. As páginas narram a aventura do garimpo de ouro, tempo em que o chão dos cabarés era lavado com cerveja. Mergulha no ciclo da madeira. Revela boas malandragens de prefeitos em defesa de seus municípios. Mostra o vácuo do Estado em muitos setores. Critica o cadeado ambiental na Hidrovia do Teles Pires. Recapitula o escândalo Cooperlucas. Conta coisas do arco da velha, mas seu grande conteúdo é a alma da gente do Nortão. Não pensem que os políticos regionais foram excluídos do texto, pois eles estão presentes com suas fichas sujas ou não.

Ler o livro é conhecer o Nortão em sua plenitude. É se deparar com informações sobre a região mato-grossense com ares californianos e haitianos, que se conflitam. A obra não tem apoio das leis de incentivo cultural e para reduzir seu preço de capa não será vendida em bancas. As vendas, pela internet, se encerram hoje. Nesta data será definida a tiragem, para que não haja encalhe.

Agradeço aos que compraram exemplares e aos retardatários que certamente também o farão, agora. Tenham certeza: mais que um livro, o leitor terá em mãos um verdadeiro tratado sobre o Nortão!

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista em Mato Grosso
[email protected]

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