quinta-feira, 25/abril/2024
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De linha

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À luz da lógica a denúncia de José Riva dando conta que ao menos 33 deputados no exercício do mandato teriam recebido mensalinho tem que ser abraçada com unhas e dentes pelo Ministério Público (MP). A Assembleia Legislativa também teria que se atracar a ela. Não vejo razoabilidade para desqualificá-la. Riva denunciou aplainando caminho para futura delação.

A tese de que Riva estaria em desespero, que buscaria holofotes ou que tenta arrastar ex-colegas na Assembleia para o lodaçal onde se encontra, não soa bem, independentemente de quem a sustente. Avalio que ninguém melhor do que o indivíduo pego com a mão na botija para dar nomes aos bois.

Com a divulgação da lista dos supostos recebedores do mensalinho, imaginei que o MP mergulharia de cabeça no caso, uma vez que há 20 anos procuradores e promotores queimam pestana em busca do fio da meada para desmontar o castelo de Riva e seus satélites; mas nada aconteceu. Também pensei que a Assembleia, indignada, instalaria uma CPI criada a 46 mãos – excluo as de Janaína Riva, filha do denunciante – para fazer uma devassa nas supostas relações que teriam acontecido na penumbra na dita Augusta Casa; mas necas de pitibiriba. O Tribunal de Contas do Estado não leva em conta que entre os denunciados estão conselheiros. O governador Pedro Taques concede o benefício da dúvida ao seu secretário-adjunto Carlos Brito, também citado.

Mato Grosso lamentavelmente tem a memória jornalística curta e lapsos de amnésia quando se faz necessário reconhecer mérito de político destronado do poder. Isso – creio – afasta do noticiário a informação de que a lei da delação premiada nasceu com o DNA da nossa ex-senadora Serys Slhessarenko, que a idealizou com base na legislação norte-americana. Independentemente do silêncio sepulcral que se faz sobre Serys, é preciso reconhecer que essa lei foi fundamental para que a Justiça Federal chegasse a tantos tubarões e graúdos políticos enrodilhados até a medula com as ações de Lava Jato. Sem as delações, o juiz Sérgio Moro estaria de pés e mãos atados.

Em nome do princípio democrático é imprescindível que se respeite a Assembleia. Porém, diante de tantos rumores que se ouve há muitas legislaturas, é imperativo passá-la a limpo, mas com o devido cuidado para que tal procedimento não seja caça às bruxas nem ato de vingança política contra esse ou aquele parlamentar.

Todos os ingredientes necessários às investigações do MP e a criação e instalação de uma CPI estão na mesa, onde também se encontra um réu confesso, que por 20 anos foi soberano na Assembleia. Esse cenário deixa Mato Grosso numa encruzilhada. Que cada um cumpra seu papel sob pena de a omissão criar uma cortina protecionista tão consistente a ponto de desencantar e afastar o cidadão de bem das figuras públicas do Estado por não ser capaz de distinguir se elas estão à direita ou à esquerda da linha que separa o legal do ilegal.

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista em Mato Grosso
[email protected]
 

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