sexta-feira, 29/março/2024
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Coração olímpico

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Os Jogos Olímpicos são um grande espetáculo. Milhares de atletas de centenas de nações competindo em dezenas de modalidades esportivas. Tudo em poucas semanas e na mesma cidade. Torcedores, árbitros, comissões técnicas e repórteres do mundo inteiro contribuem para que o Rio de Janeiro se converta ainda mais numa Babel diversificada e festiva, ruidosa com a presença colorida e ruidosa de múltiplos idiomas, variadas indumentárias e diferentes culturas.

Na medida em que as finais acontecem, multiplicam-se histórias humanas de grande intensidade. Umas dramáticas; outras heroicas; algumas surpreendentes;a maioria comovente. Histórias de atletas excepcionais como Bolt ou Phelps e de muitos quase anônimos, mas que também contribuíram para a grandeza do espetáculo.

É certo que houve cenas reprováveis: os casos de doping, a vaia da torcida ao saltador francês, a recusa do cumprimento ao judoca israelense, a manobra ilegal da nadadora na chegada da maratona aquática em Copacabana, a farsa do assalto forjado pelos nadadores estadunidenses.

Mas houve também episódios memoráveis, que revelam parte do que há de melhor, belo e grandioso no ser humano: a volta por cima do ginasta Diego Hypólito, finalmente vitorioso após vários insucessos; a emoção do velejador argentino que ganhou o ouro aos 54 anos de idade, um ano após ter sido operado de câncer; o abraço das corredoras americana e neozelandesa que se ajudaram mutuamente após uma queda nas eliminatórias dos 5.000 metros; a fidalguia do esgrimista tcheco que voluntariamente corrigiu um erro da arbitragem que o beneficiaria e que terminou perdendo o duelo; e tantos mais.

Nesses Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro observamos que há muito mais vitoriosos do que medalhistas e que é profundamente verdadeira a mensagem que Cervantes colocou nas palavras que Sancho Pança dirigiu a Dom Quixote quando esse, alquebrado, retornou à sua aldeia natal: vencer a si mesmo é a maior vitória que se possa alcançar. Isso não vale apenas para o esporte, mas para a vida: o maior desafio sempre é vencer nossas próprias limitações e fraquezas, corrigir nossos maus hábitos e tendências, reformar nossos pensamentos e atitudes, reconhecer quando erramos e encontrar forças para tentar recomeçar.

Quando escrevo este artigo, os Jogos Olímpicos ainda não acabaram, mas, entre tantas histórias, uma em especial me sensibilizou. Se tivesse que destacar um único episódio, seria esse. Se pudesse conceder um único prêmio olímpico simbólico, seria para a família do técnico alemão da canoagem, Stefan Henze, de 35 anos, medalha de prata na Olimpíada de Atenas de 2004, que morreu em decorrência de um acidente de carro ao retornar para a Vila Olímpica. Hospitalizado, sofreu cirurgia no cérebro, mas faleceu em seguida. Sua família na Alemanha autorizou a doação de seus órgãos. Quatro cidadãos brasileiros foram atendidos com o transplante do fígado, dos dois rins e do coração.

A atitude da família alemã é um belo exemplo de resignação, solidariedade e amor aos próximos, mesmo quando esses próximos são completos desconhecidos, que falam outro idioma e vivem a 9.500 km de distância. Os familiares tiveram a compreensão de que o ente amado, ao partir para a vida espiritual, deixou um corpo cujos órgãos poderiam aumentar a expectativa e a qualidade de vida de outros humanos. Graças ao seu gesto, quatro transplantes foram realizados com êxito e o coração olímpico de Stefan Henze continua batendo em terras brasileiras. A ele e à sua família, nossas homenagens e admiração.

 

Luiz Henrique Lima – auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia.

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