sexta-feira, 26/abril/2024
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Jean Chera chega à 4ª divisão e diz que se aposenta se não emplacar

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Um pouco depois das 9h da manhã de uma quinta-feira chuvosa em Santos (SP), um homem de cara fechada entra no vestiário onde cerca de 25 jogadores acabaram de rezar de mãos dadas um pai-nosso e uma ave-maria.

“Deixa eu dizer uma coisa para vocês”, anuncia Samuel Maninho, gerente de futebol da Portuguesa Santista. “Horário de almoço e de janta está marcado, quem não cumprir vai ficar sem comer. Para de ficar resenhando, para de ficar batendo bolinha… quem perder o horário não vai ser perdoado.”

Os jogadores, batalhando por um lugar ao sol na quarta divisão do futebol paulista, com um pé no profissionalismo e outro na várzea, mantém o olhar fixo no gerente, talvez torcendo para a bronca acabar logo. Mas Maninho está apenas começando.

“Quem está tomando refrigerante, eu vou pegar a Coca e vou ficar. Nem eu tomo essa bosta! Vocês são jogadores”, afirma ele, em um misto de indignação e revolta. “Cabou, velho! Quer tomar refrigerante, toma escondido. Depois fica que nem louco aí, se matando.”

Ele sai e deixa os atletas calados, meio envergonhados, meio surpresos. Jean Chera, sentado num banco encostado à parede, amarra o cadarço do tênis.

O grupo sai aos poucos do vestiário e se dirige a um areal perto dali, onde, por duas horas, eles vão correr, pular, desviar de cones e correr de novo, embaixo de chuva e sol. Podem estar na última divisão do Estado e jogar em gramados esburacados contra times que ninguém nunca ouviu falar, mas ainda assim, são jogadores profissionais.

Mais tarde, enquanto come um prato equilibrado de vegetais, proteína e carboidrato, Jean, que algum dia chegou a pensar que seria o melhor jogador do mundo, me explicará que aquela bronca não tinha sido dirigida a ele.

Poderia ser alguns meses atrás, porque ele realmente estava desleixado, bebia muito refrigerante, abusava de doces, comia fora de hora, dormia mal. Ganhou peso, peso demais. Como consequência, hoje não tem o mesmo fôlego dos companheiros durante os treinos com bola, vê os outros passarem por ele como caminhões desgovernados; e ele não consegue correr tão rápido, é facilmente marcado, não ajuda na marcação ao adversário.

Mas agora, diz ele, agora ele quer fazer tudo diferente. Disciplinou sua alimentação e seu horário de dormir, cortou o refrigerante e outros doces, perdeu peso e percentual de gordura e se dedica aos treinos como se disso dependesse sua vida.

Depois de ganhar muito dinheiro na base do Santos e do Genoa da Itália, depois de passar pela base do Flamengo e do Cruzeiro, depois de rodar por um time pequeno da Grécia e de equipes como o Oeste (2ª divisão) e Cuiabá (4ª), depois de ter sido chamado de o futuro do futebol brasileiro e depois de ter fracassado em tudo isso, ele sabe que agora vive sua última chance de dar certo.

"A última chance", Jean Chera suspira, pensando em seu passado atribulado e no que o futuro lhe reserva. Ele tem 20 anos de idade.

“Se eu não conseguir jogar na quarta divisão, é melhor desistir logo e tentar fazer outra coisa da vida”, diz ele, ainda assim confiante de que agora chegou sua hora de virar realidade.

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