terça-feira, 16/abril/2024
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Tese de pesquisador de Mato Grosso sobre poluição repercute na Inglaterra

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Defendida em Abril de 2004, na Universidade de Sheffield, na Inglaterra, a tese de doutoramento do técnico da UFMT, Élvio Schelle, sobre ´´Análise Multielemental de Cascas de Árvores com Referência Especial à Mensuração e Mapeamento de Poluição do Ar´´, está despertando o interesse não só de pesquisadores da Grã-Bretanha, como de outros países. Em correspondência ao reitor Paulo Speller, o Diretor do Centro de Ciências Analíticas da Universidade de Sheffield-UK, Prof. C.W. McLeod, informou que o trabalho de Schelle ´´foi considerado de alto nível pela banca examinadora, trazendo contribuições significativas para o campo das ciências ambientais.´´

McLeod disse, ainda, que a pesquisa teve o apoio da British Geological Survey e que repercutiu de forma tão favorável nessa instituição que ela própria já está desenvolvendo projetos na área. Élvio Schelle é geólogo formado pela UFMT em 1982 e trabalha no Departamento de Recursos Minerais, do Instituto de Ciências Exatas e da Terra. Em razão da avaliação positiva das conclusões a que chegou, recebeu a recomendação de fazer pós-doutoramento no Instituto de Meio Ambiente do Japão junto ao Dr. K. Satake, que está estudando os efeitos da chuva ácida utilizando árvores. Schelle publicou diversos artigos em revistas científicas internacionais e tem participado de encontros na Inglaterra e outros países, como a Hungria.

No Brasil já apresentou o resultado da sua pesquisa no Instituto Florestal de São Paulo, na Unicamp e no Paraná. Foi, também, procurado pela Universidade de Pretória, na África do Sul, que pretende aplicar a técnica de monitoramento através da casca de árvores para avaliação da poluição por platina na atividade de extração e beneficiamento desse metal.

Schelle relata que, inicialmente, sua intenção, como geólogo, era trabalhar com metais pesados em áreas subterrâneas, mas, como o Departamento de Geologia da Universidade de Sheffield fechou, tendo sido absorvido pelo Departamento de Química, ele optou por estudar os metais mais pesados na atmosfera de regiões urbanas. Explica que foi criada uma técnica de amostragem e preparação de amostras, uma metodologia de análise e confecção de mapas de concentrações para regiões urbanas e industriais. ´´Esses mapas´´, acrescenta, ´´mostram as áreas mais afetadas pelos metais pesados.´´ Enfatizou que a casca de árvore é um biomonitor eficiente para avaliar a poluição antropogênica. ´´Os metais encontrados nas cascas das árvores provêm das atividades humanas, concentrando-se nas árvores pela impactação do ar e pela chuva, sendo desprezíveis as concentrações oriundas do metabolismo da planta através da raiz.´´

Durante a pesquisa, foram coletadas cerca de 1.300 amostras, em diferentes países como Japão, Malásia, Tailândia, Senegal, Escócia, Irlanda, Inglaterra, Itália, França, Holanda, Alemanha, Áustria, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Costa Leste e Oeste dos Estados Unidos. No Brasil, Schelle preocupou-se especificamente com a poluição por mercúrio oriunda da atividade de extração de ouro, coletando amostras no Rio de Janeiro, em São Paulo, na divisa de Minas Gerais e Goiás, na divisa de Mato Grosso e Goiás, em Cuiabá, em Poconé e ao longo da BR 163 até Itaituba, no Pará.

Levantou 51 elementos, mas, na elaboração da tese, utilizou apenas 19, despendendo um ano e três meses nessa fase de coleta e preparação de amostras. ´´Para certificação da metodologia,´´ esclarece, ´´coletei amostras em áreas remotas não industrializadas, que são consideradas não poluídas, como Amazônia, Pantanal, Oeste da Irlanda e algumas regiões da Escócia. O objetivo, ao fazer coletas em regiões remotas, era ter um referencial do percentual normal existente de metais pesados no ar, comparando-o com a poluição atmosférica resultante de atividades industriais e do tráfego de veículos.´´ Para tanto, Scheller utilizou duas técnicas de avaliação: fluorescência de raio X com energia dispersiva (EDXRF) e oblação de laser acoplado ao espectômetro de massa (LA-ICP-MS).

Na sua opinião, em termos práticos, essas técnicas são baratas, de fácil aplicação e o limite de detecção chega a sub ppm, que significa abaixo de um micrograma por grama (mg/g). Lembra que, desde a década de 70, alguns pesquisadores já utilizavam a casca de árvores para avaliar a poluição atmosférica por metais pesados, no caso chumbo, nas proximidades de rodovias. A inovação da sua pesquisa foi a utilização, pela primeira vez, de amostras de cascas de árvore prensadas sem digestão, o que possibilitou uma avaliação precisa da presença de metais como mercúrio pela técnica de oblação de laser acoplado ao espectômetro de massa e de outros metais pela fluorescência de raio X com energia dispersiva.

Os casos mais graves de poluição do ar por metais pesados encontrados durante a pesquisa foram na Inglaterra, próximo da cidade de Sheffield, na Malásia, no Senegal e no Brasil no município de Peixoto de Azevedo, Mato Grosso. ´´Na Inglaterra, ´´comenta Schelle, ´´o que mais me chamou atenção foi ter encontrado, na localidade de Darley-Dale, onde existe uma reciclagem de baterias, índices exorbitantes de poluição por chumbo, detectando-se, em alguns pontos, níveis de 27.000 ppm, quando o limite tolerável é menos de 0.5 microgramas por grama e, ao cruzar esses dados com pesquisas realizadas no hospital universitário, verifiquei que, nas mesmas áreas, ocorria uma maior incidência de problemas de saúde que podem ser provocados pela exposição de metais pesados, tais como doenças respiratórias e de pele, além de retardamento mental.´´Schelle também constatou, nos bairros industriais da cidade, elevados níveis de cromo, níquel e cadmio.

No Brasil, o caso mais grave de poluição atmosférica por metal pesado foi observado em Peixoto de Azevedo nas proximidades das lojas que compram e vendem ouro. ´´Em uma mangueira próxima a uma dessas lojas´´, conta o pesquisador, ´´foram detectados 10.9 microgramas por grama de mercúrio, quando o tolerável é 0.05 micrograma por metro cúbico. Nas regiões urbanas de São Paulo o valor máximo de mecúrio encontrado foi 1.7 de micrograma por grama e, em Poconé-MT, esse valor foi 6.1.

Nas amostras retiradas nos arredores de crematórios, na Inglaterra, consideráveis índices de mercúrio foram encontrados, oriundos das restaurações dentarias dos corpos cremados. No momento, está-se programando para pesquisar e avaliar emissões de metais pesados na grande Cuiabá, dando-se ênfase as áreas vizinhas aos incineradores de hospitais para verificar os níveis de poluição por cádmio, cromo, níquel entre outros.

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