quinta-feira, 25/abril/2024
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Quem é Jesuis Charle ?

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No domingo, em Brasília, uma simpática jovem eleitora brasileira me abordou, pediu uma foto e fez uma pergunta: “Quem é esse Jesuis Charle que vocês tanto mostram? Nós, aqui no Brasil só conhecemos Jesuis Cristo.” Tentei explicar que é o nome de um hebdomadário francês, atacado por terroristas religiosos. Ela não entendeu o que seja hebdomadário. O que não é de admirar, porque cansei de ouvir jornalistas chamando o semanário Charlie de “jornal” – que é sinônimo de diário. Enfim, depois que expliquei bem o que tinha acontecido em Paris, ela ainda estava cheia de dúvidas. “Mataram 12 e fazem esse barulho todo? Aqui no Brasil mataram 12 crianças numa escola e ninguém deu muita bola” – disse ela fazendo uma rima com a tragédi

Pois é. Ela tem razão, embora sem noção da língua francesa. Em abril de 2011, um jovem enlouquecido invadiu a escola municipal onde havia estudado, no Realengo, no Rio, e executou 12 alunos. Não houve preocupação em Paris e muito pouco no Brasil, onde o episódio já está esquecido. Por aqui houve até uma tentativa de justificar o ataque, ponderando que o jovem apenas se vingara do bulling que sofrera na escola. Hoje continuamos justificando execuções. Tenho ouvido jornalistas afirmar que foi apenas uma reação de fanáticos muçulmanos contra o preconceito europeu. Quer dizer,  bulling e preconceitos justificam pena de morte.

O pessoal que sabe pronunciar je suis Charlie está com medo de voltar à sua querida Paris. Mas é um medo injustificado. Os últimos números de homicídios dolosos na França mostram 682 assassinatos em 2012 – menos de dois por dia, pouco mais de um por 100 mil habitantes. Aqui no Brasil houve mais de 56 mil assassinatos em 2012(fora o trânsito), o que dá 154 por dia ou 27 por 100 mil habitantes. Ou seja, é 25 vezes mais perigoso viver no Brasil. Se compararmos com um país em guerra, o Iraque, é quatro vezes mais seguro viver em Bagdá que no Rio de Janeiro. Aliás, é 50 vezes mais perigoso ser policial no Rio que em Paris. Lá, mataram dois. No ano passado, mataram mais de 100 no Rio. Por isso a moça que me abordou tem tanta dificuldade em entender essa história de Jesuis Charle.  

A moça ficou ainda mais encucada quando acrescentei que houve, em Paris, um atentado à liberdade de imprensa, de informação, de opinião. Ela me contou que no curso médio que frequenta, o professor de História prega um controle dos meios de informação aqui no Brasil. E diz que o governo precisa conter o monopólio de opinião nas mãos de magnatas das redes de jornais, tevês, rádios e revistas. Que é preciso entregar o controle ao povo, sem explicar muito bem como isso funciona. Reagi afirmando  que o ideal dele é o Granma da ditadura cubana, já que a realidade acabou com o Pravda, da ditadura soviética. Mas aí ela continuou sem entender: “Como é que vocês defendem a liberdade de opinião na França e não se manifestam por aqui?”.  Difícil contentar essa moça. 

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