sábado, 20/abril/2024
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Falsificação na Internet

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 Tenho dito que a internet é a nova praça principal da cidade, onde vale tudo: vale a fofoca, o boato, a calúnia, a difamação – tudo sob o anonimato covarde, que na praça equivalia ao cochicho temeroso, para camuflar o medroso autor. Na praça, a gente olhava no fofoqueiro, o mentiroso nos olhos e contestava na hora. Pela internet, a multidão dos crentes e crédulos aumenta a cada “encaminhar”, com a maior irresponsabilidade. Agora mesmo apagaram parte do número 18 do Zuñiga, para dizer que 13 vestido de vermelho faz mal ao Brasil. Antes disso, eu havia recebido uma imagem de Dilma mostrando os dois dedos médios para o público do Itaquerão. Como vimos todos, a imagem real é a presidente cruzando os dedos antes de numa cobrança de falta da seleção.

A aceitação dessas falsificações revela a ingenuidade de quem as recebe. E ingenuidade com má-fé, quando se dá um forward ou encaminhar. Fico furioso com quem me manda essas falsificações, já que isso significa que o remetente me considera tão bobo quanto ele. Outro dia me mandaram fotos do avião presidencial brasileiro. Primeiro, a foto externa do avião com alguns próceres petistas na escada. Depois, fotos do interior do avião. Com inscrições árabes na decoração das paredes. Certamente a cabina de algum multimilionário do oriente médio. Já recebi foto da mansão do filho do ex-presidente Lula. Na verdade, foto da Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz, em Piracicaba. O palácio falso do Bispo Edir Macedo tem o mesmo grau de autenticidade.

Insistem em me mandar uma “agressão ao meio ambiente”: o MST recolhendo ovos de tartaruga na margem do rio Solimões. Ao fundo se vêem ondas do mar; a areia é vulcânica; os sacos usados têm inscrições em espanhol e as pessoas estão vestidas e têm feições de hispânicos do caribe, como são os costarriquenses. Já recebi artigos meus que nunca escrevi. Outro dia, me mandaram um artigo recente assinado por Lúcia Hipólito, que infelizmente não tem tido condições físicas para isso nesses últimos dois anos. Já recebi artigo de Fernando Pessoa com referências à internet. Millôr Fernandes têm autoria post-mortem na internet, num artigo que elogia o período militar. Já falsificaram uma foto de Dilma ainda jovem, pondo atrás dela um fuzil inexistente na época.

Agora que começa a campanha eleitoral, a internet vai nos bombardear com falsidades desse tipo – imagino que de todos os lados. Quando me mandam teorias de conspiração sobre Globo, acho graça das asnices, mas há quem não pare para pensar e acredite. É mais ou menos como as questões de fé, que não passam pela peneira da inteligência. Por isso, abro a caixa de mensagens com os quatro pés atrás. E vou deletando, às dezenas, as bobagens de cada dia.

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